Amazônia

Força Nacional de combate a queimadas fica longe de locais dos incêndios

Agentes enviados à Lábrea para combater queimadas não saem da sede do município

Waldick Júnior
01/10/2022 às 08:26.
Atualizado em 01/10/2022 às 08:26

Especialistas dizem que os incêndios na Amazônia são causados ​​principalmente por agricultores ilegais, fazendeiros e especuladores limpando a terra e incendiando as árvores (Foto: AFP)

 Enviada à Lábrea (AM), Humaitá e Novo Aripuanã para combater as queimadas até novembro, a Força Nacional permanece a centenas de quilômetros de distância dos pontos onde ocorrem os grandes incêndios nos municípios. Enquanto isso, setembro de 2022 já é o segundo mês em que mais houve queimadas em todo o Amazonas desde 1998 (início da medição), segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Em entrevista para A CRÍTICA, o secretário de Meio Ambiente de Lábrea, Daniel Hiroshi, afirmou que a Força Nacional está há dois meses no município e não sai da área urbana. O problema é que os focos de incêndio ocorrem em sua maioria na zona rural, especialmente na fronteira com Rondônia, segundo a plataforma BDQueimadas, do Inpe.  

“Eles ficam aqui na sede, que é a cerca de 800 km da área onde tem as maiores queimadas em Lábrea. Os agentes nos ajudam aqui em incêndios na área urbana, mas no ponto central mesmo, não vão”, disse o secretário.

A reportagem também teve acesso a um relatório interno do Corpo de Bombeiros do Amazonas referente a setembro. O documento registra a atuação da Força Nacional no perímetro urbano de Lábrea.

Vale lembrar que o município é  o que mais soma queimadas em todo o Amazonas. Dados do Inpe apontam que 27% de todos os  incêndios do estado acontecem dentro do território labreense.

 Humaitá
O cenário é similar em Humaitá, sexto com maior registro de queimadas (Inpe) e um dos três em que a Força Nacional está atuando desde julho, no Amazonas. Segundo o secretário de Meio Ambiente do município, John Auler, os agentes estão longe do foco principal.

“Hoje, as maiores incidências são nas rodovias BR-319 e BR-230. Fica a uns 100 km da sede do município. Aqui não tem ação nenhuma deles. A base deles é aqui, mas aí vão para outros municípios, Apuí, Manicoré e Canutama. Operação mesmo em Humaitá não teve, nem do governo federal nem do estadual”, disse o titular da pasta.
   
 Operação
Em julho, a Força Nacional, ligada ao Ministério da Justiça (MJ), anunciou que dava início à operação ‘Guardiões do Bioma’, para combater queimadas em três municípios do Amazonas: Lábrea, Humaitá e Novo Aripuanã. O trabalho está previsto para encerrar em 15 de novembro.

Procurado pelo reportagem, o MJ se negou a informar o efetivo de agentes da Força Nacional enviados para os municípios, além de não detalhar também quais equipamentos estão sendo utilizados na operação, gastos, ou quais são as áreas alvo do trabalho nos municípios.

"Não é possível informar os quantitativos de efetivo, armamento e equipamentos. Estas informações são sensíveis à segurança da operação, bem como dos servidores da Força e por tanto restritas, nos termos do art. 16, II, III, da Portaria MJSP nº 880/2019, de 12/12/2019", diz trecho da nota enviada à reportagem.

Em Lábrea, A  CRÍTICA apurou com o secretário de Meio Ambiente que o efetivo da Força Nacional é composto por 12 agentes e duas viaturas, número insuficiente para cobrir a alta demanda para combate aos incêndios no território.

Áreas federais

Em nota para esta reportagem, o governo do Amazonas informou que, dos focos de calor registrados no Amazonas entre 1º e 26 de setembro, 8,1% aconteceram em áreas de gestão estadual. A maioria, afirma a pasta, está localizada em territórios federais (65,2%), como assentamentos, terras indígenas, glebas federais e unidades de conservação.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) pontuou que tem atuado no combate às queimadas no sul do Amazonas “por meio do emprego de 108 servidores públicos das forças ambientais e de segurança pública, além de outros 233 brigadistas florestais”.

Segundo a Sema, o efetivo acima atua em apoio às ações do Corpo de Bombeiros em 12 municípios prioritários, entre eles: Apuí, Lábrea, Manicoré, Humaitá, Boca do Acre, Novo Aripuanã, Barreirinha, Parintins, Canutama, Boa Vista do Ramos, Maués e Nhamundá.

Falta articulação

Secretários de Meio Ambiente de municípios do sul do Amazonas também criticam a falta de ação conjunta dos governos estadual e federal, que  têm competência e mais recurso para combater os incêndios e as queimadas em toda a região.
 
“Não temos informação nenhuma, praticamente zero de parceria. O número de incêndios aqui no perímetro urbano do município tá baixo, mas nas regiões de mata mesmo, mais longe, está alto”, disse o secretário de Humaitá. 

Em Canutama (AM), sétimo com mais registro de queimadas (Inpe), o  titular de Meio Ambiente do município, David Freitas, afirma saber da existência de operações na área. Porém, ressalta a falta de atuação conjunta entre prefeitura, estado e governo federal. 

“Não veio ninguém aqui na sede com a prefeitura. Os focos de incêndio mesmo não são aqui na área urbana, mas tivemos muita nuvem de fumaça nesse ano. O que eu sei é que eles [Força Nacional e Governo do Estado] estão com operação lá para a área de Lábrea, Boca do Acre e Humaitá”, pontuou o secretário.
 

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