Professor Sérgio Freire explicou o que o texto temido por grande parte dos candidatos precisa ter para ser bem avaliado
(Foto: Jair Araújo )
A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) costuma ser uma preocupação à parte para os candidatos. Isso porque ela sozinha vale mil pontos e a nota obtida nela acaba sendo crucial àqueles que desejam uma vaga na universidade.
No ano passado, o tema da redação foi “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Nos anos anteriores, intolerância religiosa e racismo estavam pautados. Com tanto assunto importante sendo discutido atualmente fica difícil mensurar qual deve ser o tema do Enem 2018. Mas melhor do que tentar adivinhar o tema é treinar a redação.
Ter domínio sobre os cinco critérios avaliados (cada um vale 200 pontos) garantem um bom texto e, consequentemente, uma boa nota. “Para quem está começando é preciso exercitar a escrita. Uma pessoa nota mil tem todos esses aspectos. Quanto mais exercitar, mais fácil fica”, é o que assegura o professor Sérgio Freire, doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Existem critérios mais fáceis de serem exercitados e outros que demandam uma dedicação maior. “A leitura dá o subsídio do conteúdo e a prática da forma, que são as técnicas de escrita. A leitura é algo que não para, é todo dia, é toda hora e é em todo momento. O conhecimento geral está vindo e eu só preciso transformar essa informação em conhecimento”, explica Sérgio Freire.
Para o professor, a dificuldade que os candidatos encontram envolve duas naturezas contrárias: ou ele não tem o domínio da técnica de escrita apesar de saber muito sobre o assunto ou ele sabe a forma, mas não possui o conteúdo para ter uma boa argumentação. “É uma junção das duas coisas e a melhor forma de se resolver isso é escrevendo. Não tem jeito. É o exercício que leva a uma redação cada vez melhor. Você aprende a escrever escrevendo”, diz.
Além disso, é importante estar bem psicologicamente para fazer a prova e estudar de acordo com sua capacidade. “Se vai fazer uma redação por dia ou duas, é muito pessoal. Só é importante que faça. Ninguém aprende só ouvindo o professor falar, é preciso escrever, errar, acertar a escrita, pedir para outra pessoa corrigir. A escrita é um processo de engenharia. É igual construir uma casa”, exemplifica ele.
Para quem estuda sozinho, a dica do especialista é utilizar a tecnologia disponível e investir em grupo de estudos. “É importante que partilhem as informações, trocando redações e fazendo críticas construtivas. Essa é uma geração que trabalha cooperativamente, assim fica mais fácil”, aconselha.
Os cinco critérios
Os cinco pontos avaliados na redação são: o domínio da norma padrão, a capacidade de articular conteúdos, a organização lógica, a capacidade de escrever e a elaboração de uma proposta.
Ler deve ser um hábito e a troca de redação para avaliação é um bom exercício. Foto: Arquivo A Crítica
O Enem é a principal porta de entrada para as universidades. O exame será aplicado nos dias 4 e 11 de novembro e é dividido entre as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação, Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Somente no Amazonas foram realizadas 123.800 mil inscrições para a edição deste ano.
Dicas valiosas para cada critério
Quanto ao critério de “domínio da norma padrão”, Sérgio Freire diz que uma boa redação usa sempre a norma padrão da língua. “Não dá para usar gírias nem a forma oral da língua. A norma padrão é a esperada na redação do Enem e é a que se aprende na escola”, observa.
“A gramática só é a descrição da língua, mas não dá elementos para escrever bem. É preciso saber utilizar a gramática em situações reais de uso, como escrever um requerimento, fazer cartazes. Quanto mais você souber os gêneros da linguagem mais fluente você é como sujeito da linguagem”, ressalta o professor.
#Articular conteúdos
Sobre a “capacidade de articular conteúdos”, ele diz que “quando se traz o conhecimento de várias áreas sobre o tema, mais valorizada a redação fica”. “Os textos interdisciplinares são mais bem avaliados. Quanto mais visão do mundo eu tiver mais rica será a redação. Maior será a possibilidade de articular esses elementos interdisciplinares”, diz.
“A leitura é um processo longo, que precisa se tornar um hábito. Quanto mais cedo iniciar, melhor”, aconselha. “Quanto eu mais me expuser à língua, mais elementos de conteúdo eu tenho depois para articular de forma interdisciplinar em um texto”, completa.
“A leitura, que não é apenas o ato de ler e abrange outros aspectos, pode ser feita em jornais, revistas, livros e até mesmo na internet, com vídeos no YouTube, por exemplo. Qualquer leitura é um insumo positivo. O conhecimento se adquire com leitura e não é algo que se tem na véspera da prova”, destaca o professor.
#Organização lógica
A “organização lógica” do texto, diz Sérgio Freire, é fundamental para fazê-lo argumentativo. “É preciso ligar logicamente um fato a outro, ser capaz de articular todos esses pontos”, observa.
#Capacidade de escrever
Em relação à “capacidade de escrever”, o professor destaca que fazer um texto é um trabalho de construção, uma técnica. “Ninguém nasce sabendo escrever. Você aprende a escrever quando conhece as técnicas de escrita, que se aprendem na escola. Como é uma técnica, quanto mais eu exercito mais vou melhorando. É como aprender a dirigir. Com um tempo existe uma automatização desse processo”, explica.
“Quando se exercita a escrita também exercita a coerência e coesão, essenciais no processo de avaliação do Enem. Coerência é falar do assunto dentro do assunto requerido. A coesão é a ‘costura textual’ entre os elementos do texto. Isso é técnica”, diz o professor.
#Elaborar uma proposta
Sérgio Freire diz que o avaliador espera que no final da redação que ao autor aponte algumas soluções para o tema proposto. “Não é necessário ser algo profundo, é apenas para mostrar a quem vai corrigir a redação que o candidato entendeu o tema, organizou o assunto, escreveu um texto coerente e coeso, e que no fim, está propondo uma solução para àquele problema”, diz. “Conhecimento é informação relevante. Eu preciso pegar esse monte de informação que eu tenho e articular de forma que eu possa articular um assunto e propor a solução do problema”, resume ele.