Craque encontra crianças a partir dos cinco anos praticando tiro e levanta questão sobre pontos positivos e negativos da atividade
(Ousadia Guilherme Farias tem só cinco anos, mas já atira há dois)
À primeira vista, crianças segurando armas, mesmo que para praticar um esporte, pode ser estranho e até mesmo chocante. No entanto, a equipe do CRAQUE foi conferir o 1º Torneio Esportivo do ano, no qual a categoria infantil contabilizava 10 crianças e apresenta a opinião de pais, dos atiradores, psicóloga e advogado sobre a prática do esporte por crianças e sua legalidade. Além disso, apurou um projeto de lei de autoria do deputado Dr. Rosinha (PT/PR) que pretende proibir a prática do Tiro Esportivo por parte dos pequenos atiradores.
Segurando uma carabina de ar comprimido de um quilo e meio, Guilherme Farias, de cinco anos, atira com precisão. Ao perceber a aproximação da repórter, o garoto trava sua arma e com habilidade a segura com o cano sempre voltado para baixo. Com orgulho, o pequeno conta que pratica o esporte desde os três anos de idade, que sabe todas as regras de segurança para praticar a modalidade, que fica feliz de participar dos campeonatos e aponta para o pai, Leonardo Souza, quando perguntado quem lhe apresentou a prática. “Fico feliz quando venho para cá (Centro Amazonense de Tiro Esportivo). Hoje não acho mais difícil atirar, mas ainda falta muito para eu me tornar o melhor”, ressalta o menino, que ficou em quinto lugar no campeonato e tem como ídolo o irmão de nove anos, Gabriel Farias. “Ele é um bom atirador; o melhor daqui”, afirma sorrindo.
O pai das crianças, Leonardo Souza, engenheiro florestal e instrutor de armamento e tiro credenciado pela Polícia Federal, pratica o Tiro Esportivo há mais de 10 anos e diz que a prática esportiva é hereditaria, que passou do seu avó, para seu pai e que agora ele faz questão de passar a seus filhos e não desconsidera que a modalidade possa ser perigosa a seus herdeiros, ou que mais tarde o comportamento de seus filhos possa ser comprometido devido o uso de armas, mesmo que com ar comprimido (chumbinhos de gás).
“O Brasil é um País sem educação, mas eu ensino meus filhos a utilizar a arma com sabedoria através do esporte. Tomo todas as precauções para que eles saibam a diferença de uma arma de fogo e uma com chumbinho, e ensino todas as regras de segurança. Meus filhos nunca se machucaram e nem machucaram ninguém ao praticar o esporte. Todas as vezes que pegam na arma, pedem a minha autorização”, diz Leonardo, que abocanhou o 1º lugar da Sênior, 10 metros.
Souza ainda ressalta que a vivência da família é importante para aquelas crianças que praticam esportes. Segundo ele, um lar estruturado agrega valores e princípios importantes para a criança distinguir o certo e o errado na vida adulta.
Consultado por Souza, o advogado Marcelo Sabba, especialista em direito tributário, explica que a prática com arma de ar comprimido não exige nenhuma autorização judicial e que o acompanhamento dos pais é suficiente para a pratica.
Psicóloga Simoni Russo
O tiro esportivo, feito por crianças, pode de alguma maneira influenciar no comportamento dos pequenos?
A criança até 7 anos passa por um momento delicado, pois ainda está construindo sua personalidade. Por isso, o acompanhamento e o cuidado da família quando a criança for praticante do tiro esportivo, é essencial. É importante que se entenda que dos 3 aos 6 anos, a criança não tem condições de construir valores e definir conceitos. A família é responsável por isso. A partir dos 7, aos 12 anos, o adolescente já começa a ter personalidade, mas ainda assim é necessário acompanhamento. Caso a família não acompanhe a criança e não converse com ela mostrando o que é certo e o que é errado, esse esporte e tantas outras coisas, podem vir a influenciar de maneira negativa as crianças.
2 O exemplo da família dentro de casa é muito importante quando a criança pratica um esporte como o tiro esportivo?
Importantíssimo. Os pais são exemplos para a criança. Ela faz aquilo que transmitem à ela. Uma família agressiva vai gerar uma criança agressiva. Educação é tudo.
Fera Alcione Costa foi campeã brasileira, ano passado, em Brasília
Como em um filme de ação, em que a garota mais bonita saca rapidamente sua arma e dá um banho em todos os marmajos, Alcione Costa apareceu no 1º Torneio Esportivo e exibiu sua habilidade com uma Imbel.40 de tiro prático. A loira, que em setembro do ano passado conquistou o primeiro lugar do Campeonato Brasileiro realizado em Brasília, na categoria Modi Fied (2ª categoria mais rápida de tiro), é a única do sexo feminino dentro os 60 participantes que compareceram, ontem, no Centro Amazonense de Tiro (CATE).
“Eu consigo sacar e disparar dois tiros em 1,24 milésimos. Me sinto muito feliz e empolgada de praticar o esporte”, disse Costa, afirmando que sua principal dificuldade é de fazer manualmente sua munição, que é inspecionada pelo Exército Brasileiro e Polícia Federal. Alcione tem direito a 10 munições por ano.
Com uma prova diferenciada dos outros atletas da modalidade de pistola, vez que os demais atiravam de 5 metros, outra fera, Igor Queiroz, enfrentou 10 metros com o armamento empunhado com apenas uma das mãos, e levou o 1º lugar. “Consegui fazer 60% do treino e espero melhorar mais”, disse Igor.
Lei quer barrar crianças
O deputado Dr. Rosinha (PT/PR) lançou em novembro do ano passado, na Câmara dos Deputados, uma lei que pretende proibir a prática do Tiro Esportivo por crianças e adolescentes e até impedir o acesso destes aos clubes de tiro, passando a classificar como crime a conduta dos dirigentes esportivos e pais que assim permitirem.
Ainda em tramitação, o projeto prevê que apenas pessoas previamente autorizadas, com porte ou guia de trânsito livre, poderiam frequentar os clubes e, ainda assim, mediante comprovação frequente de todos os requisitos que a lei estabelece para sua concessão.
O diretor da ONG Movimento Viva Brasil para Colecionadores, Atiradores e Caçadores – CAC, Fabricio Rebelo, no entanto, critica fortemente o projeto, e ressalta a ausência de fundamentação e desconhecimento por parte do deputado sobre o tema que se pretende regular.
A proposta, segundo Rebelo, também apresentaria um vício de inconstitucionalidade, pois violaria o art. 217 da Constituição Federal, a qual o Estado tem o dever de fomentar a prática desportiva, e não dificultá-la, como se pretende a proposta.