Craque

Duodecacampeão de Caratê vai tentar mundial depois de quatro tiros

Carateca Lucivan de Araújo, 28, é um clássico exemplo de que não se deve desistir nunca da vida, depois do coma de 11 dias ele sobreviveu e diz ter voltado para ficar bom um bom tempo

Paulo Ricardo de Oliveira
22/02/2012 às 12:51.
Atualizado em 11/03/2022 às 21:15

(Lucivan Voltou da ‘morte’ e agora vai tentar título inédito na Austrália)

Doze vezes campeão brasileiro, o carateca Lucivan de Araújo, 28, é um clássico exemplo de que não se deve desistir nunca da vida. Alvejado por quatro tiros de pistola nove milímetros - uso exclusivo do Exército - durante bate-boca e briga numa casa de shows de Manaus, o faixa-preta agonizou por quatro horas, perdendo sangue até receber atendimento.  Passou 11 dias respirando com ajuda de aparelhos internado na UTI e até chegou a ser dado como morto pelos informantes mais desavisados sobre seu quadro clínico. Contudo, ele sobreviveu e diz ter voltado para ficar bom um bom tempo.

“Mesmo ferido, não fechava os olhos porque eu não queria morrer. Voltei mais forte. Mas com outra cabeça, disposto a dar valor à vida e fazer mais coisas pelo meu próximo. Recebi uma nova chance de Deus, que é um Deus de milagre. Tenho de fazer valer cada minuto do meu tempo”, afirmou Lucivan, que virou evangélico.  

O processo de reabilitação de Lucivan impressionou a equipe médica multidisciplinar da clínica Check-Up, onde recebeu tratamento. Os prognósticos eram desanimadores e previam, no mínimo, 18 meses, mas o atleta precisou de apenas um terço desse tempo para se recuperar a contento. Após sair da terapia intensiva, o carateca ficou de cadeira de rodas, não falava e reagia pouco a estímulos no corpo. Teve que tomar 30 litros de soro, o que lhe rendeu 12 quilos a mais. Determinado, Lucivan cumpriu à risca o receituário médico prescrito, suportou horas intensas de fisioterapia, procurou uma fonoaudióloga para voltar a falar, fez terapia ocupacional e orava dia e noite, rogando pela melhora do quadro crítico de saúde. Ele parece ter sido ouvido, porque, seis meses depois, o atleta se recupera e já até já treina golpes e movimentos do caratê estilo Shotokan, que tem como maior referência o ex-campeão do UFC, Lyoto Machida. A meta de Lucivan é disputar o Mundial da modalidade que acontece em novembro na Austrália.

“Não guardo mágoa no coração. Não quero nem saber quem me deu os tiros. Se essa pessoa passar por mim, será indiferente. Raiva e mágoa fazem você produzir o hormônio do estresse (cortisol). Assim, a recuperação fica mais lenta. O fato de sempre ter sido esportista também ajudou consideravelmente. Mas em primeiro lugar é Deus”.  

Tiros na casa de show

Madrugada do dia 23 de julho (Corpus Christie) de 2011, 2h15, na casa de show Charriot, na Cidade Nova, zona Norte. No estacionamento, Lucivan se mete em uma briga que havia iniciado dentro local. Faixa-preta de caratê, Lucivan não deixa que um grupo espanque seu amigo e parte para cima dos desafetos. Inconformado, um dos membros do grupo rival saca uma pistola e dispara quatro vezes contra o carateca. A primeira bala perfura-lhe o pulmão pelo lado esquerdo e sai no peito. A segunda entra pelo tríceps esquerdo e fratura a escápula umeral (ombro) passando muito próximo do coração. A outra faz apenas um furo no tríceps esquerdo e a última afeta a região do quadríceps femural direito. “Eu não queria brigar com ninguém. Mas os caras começaram bater no meu amigo. Minha intenção era separar, mas fomos agredidos dentro da casa. No estacionamento, os caras voltaram a querer confusão e vieram de grupo contra nós”.

Baleado, Lucivan passou quatro horas perdendo sangue.

Anfremon D´amazonas -  médico especializado em Unidade de terapia intensiva

1 Qual era o quadro clínico do Lucivan quando ele chegou na Check-Up?

Era um quadro bastante crítico. Uma das balas atingiu a costela, o que ocasionou uma grave contusão pulmonar. A coisa piorou quando infeccionou e depois ele teve pneumonia decorrente da contusão. É um desconforto respiratório agudo. Para um quadro clínico dessa gravidade, a mortalidade é acima dos 80%. Mesmo em pacientes jovens a ocorrência de mortes é alta.

2 Por que, no caso dele, a recuperação foi mais rápida do que o prognóstico da equipe médica?

Isso varia de paciente para paciente. Vai muito da determinação da pessoa. O fator psicológico influencia também. O Lucivan pareceu muito determinado e isso o ajudou significativamente. Obedeceu à  prescrição dos receituários, cumpriu bem a fisioterapia e reagiu bem  à própria UTI.

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