Invasão tarumã

Lotes de área invadida no Tarumã são negociados por invasores

Terrenos de 200 metros quadrados estão sendo negociados por até R$ 15 mil. Segundo a Semmas, índios estão degradando a área

Milton de Oliveira
09/01/2012 às 10:45.
Atualizado em 12/03/2022 às 16:18

(Mais de 300 famílias estariam morando na área batizada " Nações Indígenas")

Lotes de terra de uma área verde no loteamento Paraíso Tropical continuam sendo vendidos por invasores indígenas a valores que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil. Os terrenos ocupados por índios ficam próximo ao Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), no Tarumã, Zona Oeste de Manaus. O problema foi denunciado pela TV A Crítica no final do ano passado, e a equipe do jornal voltou recentemente ao local e constatou o fato.

Um dos indígenas que ocupa a área se mostrou interessado em vender ou alugar um terreno à reportagem, medindo de 10 metros de largura por 20 metros de fundos. “Está proibido vender terras nessa área indígena. Mas se o senhor quiser, podemos fazer negócio. Agora, quem comprar vai perder o terreno e o dinheiro, porque é terreno federal”, disse um dos indígenas do local, que preferiu não se identificar.

Ainda segundo o invasor, os responsáveis por fazer o negócio são os indígenas conhecidos como Paulo, Messias, Gago e o cacique Jair Miranha, que, segundo o indígena, “gosta muito de dinheiro e estaria disposto a realizar negócios”. A reportagem tentou entrar em contato com Miranha, pelo telefone 9160-85XX, mas não obteve resposta.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) informou que o loteamento pertence ao município de Manaus. “Já acionamos a Justiça por meio do município e, agora, estamos esperando uma resposta”, afirmou o secretário Marcelo Dutra. Ainda segundo ele, os invasores indígenas estão degradando a área. “Os indígenas dizem que são parte da natureza, mas estão cometendo crimes ambientais contra a mesma”, destacou Marcelo.

 Diálogo

 Para o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Manaus, Luís Fagundes, o órgão estará sempre a favor do diálogo. “Estamos dispostos a sentar e conversar com os poderes públicos e abrir uma discussão com todas as instituições envolvidas para que cheguemos a uma solução.”

A Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind) respondeu, em nota, que existe no órgão um Comitê Gestor, criado para dar respostas positivas às principais necessidades dos povos indígenas no Amazonas, em diversas áreas.

Carrefour nega ter feito negociação

 Um dos invasores indígenas chegou a afirmar que um homem conhecido como Sabá, também indígena, efetuou um negócio de venda de lotes de terra com uma rede de supermercados. Ele também afirmou que vender é complicado, porque já houve conflitos. “O Sabá vendeu para um cara de uma empresa do Carrefour. Mas quando houve uma reintegração de posse de terra, e a polícia veio nos tirar, ele perdeu. Ficamos devido ao mandado de uma juíza e o comprador perdeu o dinheiro e a terra”, disse o indígena. De acordo com o invasor, Sabá fechou o negócio em R$ 1,5 milhão.

 Em nota, o Carrefour esclareceu que a informação dada pelo indígena não procede. “O Carrefour informa que não há nenhuma negociação em andamento em Manaus e reitera seu compromisso em atender todas as normas e legislação do País em suas negociações imobiliárias.”

A área também vem sendo invadida por não indígenas. Em total, segundo um invasor do local, com quem a reportagem conversou, há mais 350 famílias morando naquela área.

 De acordo com o secretário estadual de Política Fundiária, Ailton Soares, o local em que estão é área particular. “Esses loteamentos pertencem a particulares e há parcelas que pertencem ao governo”, afirmou. Ainda conforme o secretário, as terras estão regularizadas e possui área verde que deve ser preservada. “A Secretaria de Estado de Política Fundiária (SPF) não tem atribuições para tratar desses assuntos, porque já existem órgãos específicos para esses temas indígenas e de meio ambiente”, sublinhou.

Pelas imagens de satélite, mostradas pelo secretário da SPF, a área ocupada pelos indígenas seria de mais de 500 metros de fundo por 300 metros de largura.

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