A Manaustur gastou, no total, R$ 1.062 milhão em três contratos firmados com a empresa Fábrica de Eventos Ltda., para a contratacontratação dos artistas nacionais que se apresentaram durante o Show da Virada – Reveillon 2011/2012, que aconteceu em diferentes pontos da cidade
(Show da dupla Bruno e Marrone no Réveillon da Ponta Negra)
Parte dos artistas locais contratados para se apresentarem no Réveillon promovido pela Prefeitura Municipal de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Eventos e Turismo (Manaustur), recebeu cachês entre R$ 2 e R$ 4 mil, enquanto que os contratos firmados para a apresentação das atrações nacionais, como é o caso da dupla sertaneja Bruno & Marrone, chegaram a R$702 mil, uma disparidade que em percentual (17.450% a mais) mostra que as pratas da casa ainda têm um longo caminho a percorrer para alcançarem a valorização que tanto almejam.
A Manaustur gastou, no total, R$ 1.062 milhão em três contratos firmados com a empresa Fábrica de Eventos Ltda., para a contratação dos artistas nacionais que se apresentaram durante o Show da Virada – Réveillon 2011/2012, que aconteceu em diferentes pontos da cidade.
Segundo a edição do último dia 3/01, do Diário Oficial do Município (DOM), só para o show da dupla Bruno & Marrone, a empresa recebeu R$ 702 mil. Só esse valor seria suficiente para pagar 175 cachês a R$ 4 mil cada, valor cobrado por vários artistas locais.
A dupla se apresentou no dia 31 de dezembro do ano passado no Parque Ponta Negra, Zona Oeste e reuniu um público de 50 mil pessoas, que prestigiou, ainda, os shows da Banda Contregun, Renato Freitas, Tony Medeiros, Prince do Boi, Fabiano Neves, Zezinho Corrêa, Nunes Filho, Cileno, Márcia Siqueira, Simone Ávila, Lucilene Castro, Vilsinho, Rodrigo Raniely e Forró Festança.
Já a apresentação da banda Calcinha Preta, que ocorreu no mesmo dia na avenida Itaúba, Jorge Teixeira, Zona Leste, custou à Manaustur R$200 mil. Para a apresentação de Talles Roberto e Banda, o valor pago à contratada foi um pouco menor: R$160 mil. O artista se apresentou no Centro de Convenções (Sambodromo), localizado na avenida Pedro Teixeira, Dom Pedro, Zona Centro-Oeste de Manaus.
O músico Cileno, um dos artistas que se apresentaram no Show da Virada da prefeitura, informou que o cachê pago pela prefeitura fica em torno de R$ 2 mil e R$ 3 mil e que a causa da disparidade entre os valores de artistas nacionais e locais é a omissão das entidades que representam a classe, a exemplo da Ordem dos Músicos e Sindicato dos Músicos do Amazonas.
Com 30 anos de carreira, o artista afirma que falta fiscalização por parte das entidades de classe e frisa que a situação seria outra se houvesse uma tabela com valores de cachês pré-determinados. “Sabemos que a (atração) nacional tem mais visibilidade e traz um público maior e não poderíamos igualar os cachês, mas ele poderia sim ser melhorado. Reconheço que nos últimos anos já melhorou muito. No decorrer da milha carreira já recebi propostas para tocar de graça, só pela vitrine, e isso sim é uma proposta indecente”, assegura.
Cileno ressalta que qualquer remuneração é válida, desde que seja justa com o artista. “Há gente na noite ganhando R$30 ou R$40 reais, o que é um absurdo, e a Ordem (dos Músicos) deveria estar fiscalizando esses contratos. Mas, é claro que o artista se sujeita a esse valor para não morrer de fome, até porque, há outras pessoas que, assim como eu, vivem da música”, frisou. Contudo, ele reafirmou mais uma vez que cabe ao artista se valorizar.
Na opinião da cantora Márcia Siqueira, é preciso haver uma distinção nos valores pagos aos artistas nacionais e locais, já que há “artistas de renome e isso é algo normal”. No entanto, ela ressalta que, em algumas situações, é notória uma certa desvalorização do profissional local.
“Eu tenho meu preço e cada um tem o seu preço e dá o valor que acha que vale (na hora da negociação pela contratação). O que é meio desconfortável é que, muitas vezes, você dá o valor e as pessoas vêm te questionar, a exemplo do que ocorre no Fecani (Festival de Canção de Itacoatiara). Nele, se apresentam muitos artistas de fora, mas para levar um amazonense para se apresentar, eles (organizadores) dão uma contraproposta e sempre querem colocar um valor abaixo. Com isso eu não concordo”, disse.
Márcia Siqueira também comentou que, quando se trata da elaboração de uma tabela de preços que norteie a apresentação dos artistas locais, falta união entre a categoria. “Eu acho que tem que ter uma tabela de preço, mas isso é uma coisa da categoria mesmo chegar junto ao sindicato e reivindicar. Em uma situação dessas todo mundo deveria se unir, mas há uma desunião quando chega a hora de cobrar”, disse a artista, que tem 24 anos de carreira e um nome consolidado no mercado amazonense. Ela informou que costuma receber como cachê a quantia de R$ 3 ou R$ 4 mil por apresentação.
O acrítica.com tentou contato com o titular da Manaustur, Arlindo Júnior, bem como com sua assessoria, por meio dos números 8842XX47 e 8842XX44, respectivamente, mas não obteve sucesso. A Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom) informou que não poderia comentar sobre os contratos porque os mesmos foram firmados junto à Manaustur. A reportagem também tentou localizar membros da Ordem dos Músicos do Amazonas pelos números 8809-6443 e 3082-4668, disponíveis no site da entidade, mas ninguém atendeu.