DESCUIDO ARRISCADO

Com a pandemia, nortistas ‘esqueceram’ cuidados com a dengue, revela estudo

Pesquisa revelou descuido da população e do poder público com a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, que ficou relegado a segundo plano durante a pandemia. Especialistas enxergam possibilidade de surto da doença

Karol Rocha
15/03/2022 às 12:35.
Atualizado em 15/03/2022 às 12:36

Descuido com o mosquito Aedes aegypti pode ser perigoso, apontam especialistas (Foto: Reprodução/Internet)

De dois mil brasileiros entrevistados durante a pesquisa 'Dengue: O Impacto da Doença no Brasil', divulgada nesta terça-feira (15), 48% dos respondentes consideram que os cuidados com a dengue diminuíram durante a pandemia da Covid-19. O maior número de citações está no Norte e Centro-Oeste – as duas regiões foram avaliadas conjuntamente durante o estudo.

Já 33% dos brasileiros responderam que os cuidados se mantiveram iguais e 19% afirmaram que os cuidados para a doença aumentaram. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico infectologista, Alberto Chebabo, o número traz o reflexo do esquecimento da existência da dengue por parte da população e autoridades em saúde, os quais estavam mais debruçados sobre a pandemia da Covid-19. 

“A gente vê poucas ações. Os agentes de saúde deixaram de ir às residências das pessoas, a busca de focos se reduziu, por isso o aumento de casos de dengue e provavelmente nós vamos continuar vendo a expansão dessa doença tendo em vista o período de sazonalidade”, comentou. 

“Esse é o cenário do que a gente vê na prática, no dia a dia, as pessoas sabem como se prevenir, mas poucos fazem o dever de casa, então a tendência é que as pessoas esquecem mais por que não se está sendo falado sobre dengue”, acrescentou. 

Um outro dado que se confunde com a pandemia da Covid-19 é que a maioria acredita que o risco de contágio da dengue se manteve igual, mas 22% acreditam que diminuiu. Desse número, 28% não ouviu falar em dengue. 

Outro número em que o Norte e Centro-Oeste se destacam é a quantidade de vezes em que a população teve contato com a doença. De 30% de pessoas que afirmaram ter tido dengue, 45% dos entrevistados moram em uma das duas regiões. A médica infectologista, Rosana Richtmann, relembrou o período de cheia dos rios, o que leva os moradores da região Norte a ficarem mais preocupados com a doença. 

“É uma população que acaba tendo uma soroprevalência grande por já ter entrado em contato com o vírus. Sobre o ponto de vista de que diminuiu o cuidado com a dengue durante a pandemia, isso aconteceu com o Brasil inteiro. A gente deixou de pensar em outras doenças”. 

Os médicos infectologistas destacaram que é preciso que o poder público invista em biotecnologia para diminuir a quantidade do vetor e definir medidas de prevenção antes de períodos sazonais ou de desastres naturais como enchentes.

“Para o combate a Covid-19, se observou um aumento do número de equipe atuando na atenção básica de saúde, nós podemos aproveitar esse aumento de profissionais para as atividades de combate a dente. O poder público tem que retomar as ações de combate ao vetor”, sugeriu Alberto Chebabo.

De acordo com o Ministério da Saúde, nas seis primeiras semanas deste ano foram registrados 70.555 casos prováveis de dengue no Brasil, aumento de 43,5 % em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2021, houve uma queda no registro de casos e mortes em relação a 2020. Foram 544.460 casos prováveis de dengue, enquanto em 2020 os registros chegaram à marca de 1 milhão no país. 

Segundo os especialistas em saúde, a melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada para impedir possíveis criadouros, como em vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas.

Informação X Fake News

Em relação ao acesso à informação, o dado mostrou que menos da metade da população viu alguma propaganda a respeito da dengue nos últimos dois meses e 38% dos respondentes declaram ir buscar informações sobre a dengue principalmente na internet e em postos de saúde. Além disso, 62% dos entrevistados querem receber informações sobre a dengue e estão abertos para diversos canais. 

E como forma contribuir com a disseminação de informações confiáveis e educativas a respeito da doença, a biofarmacêutica Takeda lançou o site Conheça Dengue. O portal, que traz dados atuais, mitos e verdades, informações sobre sinais e sintomas para identificar a dengue, tem como objetivo ser mais uma fonte confiável de informações e ajudar na conscientização e combate à doença no Brasil. 

A Pesquisa

A pesquisa inédita realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a pedido da biofarmacêutica Takeda e com coordenação científica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), avaliou a percepção de 2 mil brasileiros. O estudo foi realizado entre os dias 19 e 30 de outubro de 2021, com 2 mil pessoas, a partir de 18 anos, de todas as classes sociais e regiões do país. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

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