Moro obteve mais de 30% dos votos, derrotando ex-aliado Alvaro Dias
Moro e Bolsonaro romperam aliança em 2020 (Foto: DW Brasil)
Obtendo mais de 33% dos votos válidos, com 96% das urnas apuradas, Sérgio Moro (União Brasil) ficou à frente do senador e ex-aliado Alvaro Dias (Podemos), que tentava conquistar um quarto mandato consecutivo. Com cerca de 23 % dos votos, Alvaro amargou um terceiro lugar na disputa, ficando atrás ainda do bolsonarista Paulo Eduardo Martins (PL), que recebeu mais de 29% e era apoiado pelo presidente.
Além de Moro, outra antiga estrela da Lava Jato foi eleita no estado: o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos), que aparecia como o candidato a deputado federal mais votado no Paraná, com 96% das urnas apuradas. A mulher de Moro, Rosângela (União Brasil), por sua vez, garantiu uma vaga de deputado federal por São Paulo.
Depois de tentar apresentar sem sucesso uma candidatura à Presidência e tentar disputar o Senado por São Paulo, Moro se viu obrigado em junho a voltar ao Paraná.
Sem a mesma popularidade dos tempos de Lava Jato, ele enfrentou uma campanha que inicialmente se desenhou difícil, indicando que até mesmo no estado que abrigava a "República de Curitiba" a sua aprovação não era mais a mesma.
Em boa parte da campanha, ele se viu em desvantagem nas pesquisas, nas quais sempre apareceu atrás de Alvaro.
Moro reagiu liderando uma estratégia atípica para os padrões de disputas ao Senado no Paraná, recheada de ataques ao ex-presidente Lula e focando em temas nacionais e agenda de costumes, deixando temas estaduais em segundo plano. Moro ainda lançou ataques baixos ao conservador Alvaro Dias, que havia sido seu primeiro padrinho político, chegando a associar falsamente o senador à “esquerda” e até ao MST.
Além de tentar conquistar o eleitorado paranaense, Moro se dividiu em apoiar a campanha da sua mulher, Rosângela, que disputou uma vaga na Câmara pelo estado vizinho de São Paulo, provocando críticas de políticos paranaenses rivais.
Conforme a eleição se aproximou, Moro passou a cortejar mais insistentemente o eleitorado bolsonarista, deixando de lado que ele havia rompido de maneira estrondosa com o presidente em 2020. Bolsonaro tinha um candidato na disputa: Paulo Martins, que nos debates locais chamou Moro de "traidor".
O ex-juiz também foi alvo de uma campanha de "voto útil" de setores de esquerda no Paraná, que passaram a defender a contragosto que os eleitores apoiassem Alvaro como forma de derrotar o ex-juiz. Seus adversários também apelaram para sentimentos locais, lembrando que Moro só se candidatou no Paraná após fracassar em sua tentativa de disputar uma vaga em São Paulo.
"Moro quis tentar ser político. E sabe onde ele foi tentar se candidatar? São Paulo. Porque ele achou que o Paraná não era suficiente para ele", disse a presidente nacional do PT, a deputada curitibana Gleisi Hoffmann, em um comício em setembro.
Sem laços com as elites políticas do Paraná, Moro ainda viu diversos prefeitos de cidades importantes do estado declararem apoio à reeleição do seu rival.
Para tentar reverter esse quadro, ele chegou a aparecer de surpresa em eventos do governador Ratinho Jr. (PSD), tentando surfar na popularidade do chefe do Executivo paranaense, embora o governador apoiasse o candidato Paulo Martins.
Mas, como mostram os resultados deste domingo, a estratégia de Moro funcionou.