Para que seja possível fazer comparações de nutrientes entre alimentos iguais, mas oriundos de países diferentes, é necessário que as tabelas tenham um padrão nas metodologias analíticas empregadas
(Foto: Divulgação)
A Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA) – que traz o valor nutricional e energético de milhares de itens e que tem sido constantemente expandida e atualizada pela equipe do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) – tornou-se referência para a criação ou reestruturação de outras tabelas do gênero na América Latina. Há cerca de dois anos, o FoRC participa, com essa finalidade, de treinamentos de nutricionistas, engenheiros de alimentos e farmacêuticos que atuam na área de composição de alimentos.
O FoRC é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP).
Em 2022, pesquisadores do FoRC passaram a liderar um curso de capacitação em compilação de dados para pesquisadores de 13 países da região. Com isso, pretendem abrir caminho para a criação do Portal de Tabelas de Composição de Alimentos da América Latina.
A iniciativa ocorre no âmbito da Latinfoods (Red Latinoamericana de Composición de Alimentos) – braço da Rede Internacional de Sistemas de Dados de Alimentos (Infoods) da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Trata-se de uma rede mundial de especialistas dedicada a melhorar a qualidade, a disponibilidade, a confiabilidade e o uso de dados de composição de alimentos.
“Dados de composição de alimentos são importantes em várias atividades, inclusive para nortear políticas públicas. A TBCA, por exemplo, está servindo de base para subsidiar a análise de consumo alimentar da Pesquisa de Orçamento Familiar [POF] do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], além de vários estudos populacionais. Em âmbito regional, ferramentas como essa possibilitam, por exemplo, identificar carências nutricionais; paralelamente, dados de biodiversidade permitem identificar e estimular o plantio de variedades mais ricas em determinados nutrientes, adequadas ao clima e solo de um determinado país”, explicou a nutricionista Eliana Bistriche Giuntini, pesquisadora do FoRC e responsável pela parte de treinamento em métodos analíticos, identificação de alimentos e amostragem no projeto.
Metodologias padronizadas
No entanto, para que seja possível fazer comparações de nutrientes entre alimentos iguais, mas oriundos de países diferentes, é necessário que as tabelas tenham um padrão nas metodologias analíticas empregadas. “A compilação de dados, que é feita pelo rastreamento de estudos científicos, exige uma avaliação criteriosa da qualidade da publicação. Antes de assimilar qualquer informação, é preciso verificar, por exemplo, se o plano de amostragem, o tratamento da amostra e os métodos analíticos usados para um determinado componente foram os mais adequados”, disse Giuntini.
Também é preciso que os cálculos usados na quantificação dos nutrientes nas receitas sigam um padrão. “Esse será o foco do nosso próximo treinamento, previsto para ocorrer no ano que vem”, conta.
Uma vez padronizadas as metodologias e a compilação por meio de formulário específico, cada país terá seu banco de dados formatado de forma similar aos demais e será criado o Portal de Tabelas de Composição de Alimentos da América Latina, que deverá estar disponível para consulta em 2023, reunindo a maior parte das tabelas dos países latino-americanos. Esse trabalho vem sendo feito sob a coordenação da nutricionista Kristy Soraya Coelho, também pesquisadora do FoRC, com a participação de vários membros do Latinfoods.
Em constante evolução
Lançada em 1998, a TBCA foi primeira tabela de composição de alimentos on-line da América Latina, como resultado de um projeto da Brasilfoods (Rede Brasileira de Sistemas de Dados de Composição de Alimentos). Em 2013, o projeto foi abarcado pelo FoRC. Desde então, a TBCA vem sendo expandida e aprimorada por Coelho e Giuntini, sob a coordenação do professor Franco Lajolo (FCF-USP) e da professora aposentada Elizabete Wenzel de Menezes, ambos membros do FoRC e responsáveis pela TBCA desde a primeira versão.
Em 2016, a TBCA ganhou um site mais robusto e com sistema de busca otimizado, além de aplicativos IOS e Android. Tornou-se também a tabela mais abrangente do país. Atualmente, sua base de dados informa os nutrientes e os valores energéticos de 5.400 alimentos, sendo 3.800 receitas, com formas de apresentação diversas (alimentos crus e cozidos, pratos compostos, produtos manufaturados), incluindo preparações para vegetarianos, veganos e bebês, além de outras sem lactose ou sem glúten. Um dos grandes diferenciais da TBCA é a prioridade para os alimentos mais consumidos no Brasil.
“A TBCA está em constante evolução. A versão 7.2 já possibilita a comparação entre três alimentos, mesmo que sejam de grupos diferentes. A partir de outubro, haverá um mecanismo que possibilitará alterar os valores das medidas. Dessa forma, o usuário poderá obter informações nutricionais na medida exata que precisa”, afirma Coelho. O TBCApp também já tem uma segunda versão, de 2022, que foi aprimorada para facilitar a consulta.
O site da TBCA é acessado diariamente por milhares de pessoas, não só por nutricionistas que precisam de dados confiáveis para compor cardápios, mas também por pessoas que buscam parâmetros para adotar uma alimentação mais saudável. “No período de um ano, entre junho de 2021 e junho de 2022, o site teve mais de 4 milhões de acessos, com tempo médio de dez minutos por sessão”, conta Coelho. “Isso mostra que estamos no caminho certo.”
A Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA) está disponível no site.
* Com informações da Assessoria de Comunicação do FoRC.