O secretário-geral do PDT, Dermilson Chagas, coloca na balança o troca-troca de partidos, no último mês de setembro de 2011, e conclui que a legenda saiu fortalecida para o pleito de 2012 em todo Estado
(Dermilson Chagas)
Há cinco meses no cargo de secretário-geral do Partido Democrático Trabalhista (PDT ), Dermilson Chagas, afirma que a sigla estava morta antes da filiação do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, e traça planos audaciosos para a legenda em 2012: eleger 30 prefeitos em todo o Estado e 100 vereadores. Para isso, não dispensa apoio nem de adversários históricos como PSDB e PSB.
Em entrevista exclusiva a A CRÌTICA, elogia a visão política de Amazonino para o PDT e revela que o antigo líder da sigla no Amazonas, senador falecido Jefferson Péres, não admitia críticas. Chagas dispara também contra o vereador Mário Frota e outros membros que debandaram do PDT após adesão de Amazonino. Frota trocou o PDT pelo PSDB, em setembro de 2011. Confira trechos da entrevista.
Qual a leitura que o senhor faz do PDT hoje no Amazonas?
O partido primeiramente, queremos salientar, vinha de uma conjuntura onde estava crescendo bem, porém devagar, lento, lerdo. Até porque nós tínhamos uma administração onde a visão não era empreendedora. Um partido hoje deve ter uma visão empreendedora, uma visão de estruturação, pessoas bem relacionadas. Um partido tem que comunicar, tem que conversar, se articular e o PDT não estava fazendo isso. O partido se estagnou em pessoas que queriam uma política única: pra eles.
Quando o senhor falava em mudanças no ano passado, era disso?
Várias vezes eu fiquei com um nó preso na garganta. Não só eu, como vários colegas. Porque a gente não conseguia desempenhar nenhum trabalho para poder o partido crescer ou ter visibilidade. O PDT tem um histórico de defesa da educação, de defesa do trabalhismo. O partido tem uma postura de que quer uma mudança diferente do que está aí.
O senhor sente falta de outra referência para o Amazonas?
A ausência do Jefferson Peres (já falecido, senador pelo PDT) nos deixou um pouco abandonados, mas não deixamos a imagem do partido cair. Não deixamos o partido ficar minguado. De uma forma ou de outra nós tivemos um (Jeferson) Praia (ex-senador), um (vereador) Mário (Frota), que faziam seus papéis. Mas eram papéis restritos, uma política umbilical, que não fazia a gente crescer e não tinha mais espaço. Aqui mesmo na nossa eleição, para deputado estadual, várias vezes pedimos que nos ajudassem. Foi mais fácil pedir apoio dos outros do que de dentro. Foi muito mais fácil.
O senhor será candidato novamente?
Não. Não sou candidato a nada. Hoje eu tenho que está do lado do prefeito para fazer o partido crescer. É isso que eu tenho que fazer. O objetivo do Amazonino foi fazer com que o partido crescesse. Tivesse uma referência. Que o partido voltasse das cinzas, porque estava morto.
Então o senhor acredita que a chegada do prefeito Amazonino ao PDT não é demérito como aponta o vereador Mário Frota?
Não, não é. As críticas são salutares. Elas nos dão um norte. Todo mundo precisa ser criticado. A gente não tem uma referência de limites imposto pelo alheio? Todos temos esse limite. Então, o Amazonino não é demérito. É orgulho, porque ele tem história. Quem mais investiu em educação? Qual o governo que mais investiu em Educação e em Saúde? Eu não conheço outro. O que fizeram foram obras arquitetônicas ao longo desse tempo de gestão. Mas, na administração pública, realmente, não vejo outra pessoa a não ser o Amazonino.
Considerando as afirmações do prefeito de que não tentará reeleição, o senhor não acha que o PDT terá uma grande perda?
Nós temos conversado com ele (Amazonino) e temos aprendido muito. E estamos chegando à um consenso que pouco são os valores a serem resgatados nessa sociedade. Tem pessoas boas como o (Francisco) Praciano, que estão presos por uma legenda.
Só resta a definição pela candidatura à reeleição do prefeito Amazonino?
O prefeito está sendo bem claro para a sociedade. O que falta é a interlocução entre a sociedade e o Amazonino.
Não seria o contrário, partindo do prefeito essa interlocução? O que se nota é um prefeito fechado à sociedade.
O prefeito não é fechado. Até porque tudo que ele faz é público. Manaus terá a frota mais nova de ônibus do país. Manaus tem um incentivo de acesso à universidade que no Brasil não existe, que é a Bolsa Universidade, que o cara não paga nada. Tem o programa social que ele enxergou, dando leite para as crianças; tem as carretas da mulher que causam impacto violento; o bolsa família complementar...
Um convite de coligação com o PT do deputado federal Francisco Praciano pode existir?
Sim, é possível. Nós somos aliados. O PDT é aliado histórico do PT. Nós não temos esquerda. Não temos. O que temos é o ‘fogos amigos’ fazendo ‘denuncismos’. É isso que a gente percebe. Qual a esquerda hoje em Manaus? É um denunciando o outro. Sabe porquê? Porque buscam o espaço dentro do espaço que tem. Ai você vê uma fila longa que vai sendo estrangulada, da nossa oposição. A história do PDT é baseada na luta pela educação e no trabalhismo. São as duas coisas fundamentais para o desenvolvimento do país.
Como está o partido no interior?
Vamos ter no interior uma faixa de 30 candidatos a prefeito. E para vereadores, vamos tentar fazer pelo menos uns 100. Atualmente são pelo menos 48 vereadores eleitos no interior. Eu vou te dizer que hoje nós vamos disputar e temos certeza que ganhamos em Parintins, com o Messias; vamos ganhar em Alvarães e em Tabatinga; em Beruri vamos fazer o vice; em Careiro da Várzea vamos ganhar com Ramiro; temos Japurá; Maraã com o Jeferson e em Fonte Boa com o Biquinho.
Como ficou a reestruturação do partido?
Ocorreu uma soma de valores no partido. O que nós tínhamos e o que veio.
O senhor diz, ‘o que veio’ com o prefeito Amazonino?
Sim, com o prefeito Amazonino. Mas são pessoas que já foram prefeitos, vice-prefeitos, e estão aptos a disputar uma eleição.
Quem são essas pessoas?
Veja bem. Saiu um (vereador) e entrou seis. Hoje nos temos o Carijó, Dr. Denis, Wilton Lira, Gilmar Nascimento, Francisco da Jornada e Marise Mendes que acompanharam o prefeito na mudança de partido. Então o partido perdeu o Mário, mas ganhou seis. Na verdade o Mário perdeu o momento dele.
O senhor tem algum ressentimento em relação ao vereador Mário Frota?
Nenhum. Sou tão novo para me desgastar com coisa velha. Não vou me desgastar com ele. É o direito dele em fazer críticas. Mas ele não tem o direito de agredir ninguém. Mário foi vice-prefeito (de Manaus) e o que foi que ele fez de bom pela cidade? Se não fosse todo o histórico do Mário, o que foi que ele fez de bom com o Serafim (Corrêa)? O que o partido cresceu com o Mário enquanto vice-prefeito? Nada. Cresceu nada.
Nessas eleições haveria uma possibilidade de nova coligação com o PSB à prefeitura?
Eu acredito que antes de Serafim já existia Amazonino. Não há necessidade de o Serafim falar o que fala, porque ele já foi prefeito. Já deixou sua marca e sua referência. E a primeira é a que fica. Manaus não cresceu. Eu fui funcionário da prefeitura e sei o que era a administração Serafim. Eu fui e pedi exoneração da prefeitura. E fui um aliado, não fui inimigo, e fui perseguido.
Essa falta de ação de Mário Frota, quando era vice-prefeito, não foi falta de cobrança da própria legenda?
A gente cobrava. Mas o grande ícone da época era o Jefferson Peres, que não admitia críticas. Quando o Jefferson era vivo, independente de ganhar ou perder, nós tínhamos um medalhão, que era ele. Uma marca nacional. Eu não podia brigar com o Jefferson Peres e sair dando tiro. Eu não podia entrar num embate político, porque ele era voz que todos ouviam. Não que ele não fizesse pelo partido, mas porque ele tinha muito respeito. E nós o respeitávamos. Mas as críticas eram sempre feitas durante as reuniões do partido.
Hoje o senhor ainda mantém relações com o ex-prefeito Serafim Correa?
Existe. Eu não tenho raiva de ninguém. Quem é político diverge não se torna inimigo. Se o PSB ou o PSDB quiserem vir somar com o Amazonino, que venham. Eu acho que o Amazonino é um cara lúcido e capaz para administrar a cidade ainda. Porque o Amazonino se torna uma pessoa muito autêntica quando assume um programa. Diz que vai fazer e faz. Ele não pensa só no amanhã, ele pensa no final do ano.