Montante equivale a 2,3% dos adultos amazonenses. Essa é a primeira vez que o IBGE investiga a orientação sexual da população brasileira. No país, o número chega a 2,9 milhões
Uma pesquisa inédita realiza pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que ao menos 60 mil pessoas adultas no Amazonas se declararam homossexuais o bissexuais. O quantitativo equivale a 2,7% da população do estado, onde 2,5 milhões (94,1%) se declararam heterossexuais, além de 1,7 milhão que afirmaram que não sabiam sua orientação sexual e 3,6 milhões não quiseram responder.
A pesquisa foi realizada em 2019 e as estatísticas foram divulgadas hoje pelo órgão estatístico.
Em Manaus, dentre 1,5 milhão de habitantes de 18 anos ou mais, 1,4 milhão (93,4%) se declararam heterossexuais; 46 mil (3,0%) homossexuais ou bissexuais, e 56 mil pessoas (3,6%) não soube ou não quis responder sobre sua orientação sexual.
Já em todo o país, 2,9 milhões de pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, em 2019, o que correspondia a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos.
Por Grandes Regiões do país, 1,9% se declararam homossexual ou bissexual, na Região Norte - mesmo percentual da Região Sul; 2,1%, no Sudeste; 1,5% no Nordeste; e 1,7%, no Centro-oeste.
Entre as unidades da federação, o percentual de pessoas que se declararam homossexual ou bissexual chegou a 2,9% no Distrito Federal, 2,8% no Amapá e 2,3% no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Amazonas.
Considerando somente as capitais de cada Unidade da federação, o percentual de pessoas que se declarou homossexual ou bissexual foi de 2,8%, no país. Na Região Norte, o percentual foi de 2,6%; no Nordeste, 2,2%; no Sudeste, 3,1%; no Sul, 3,8% e na Região Centro-Oeste, 2,6%.
Nas capitais, o percentual de pessoas declaradas homossexual ou bissexual foi de 2,8%, acima da média nacional (1,8%), destacando-se Porto Alegre (5,1%), Natal (4,0%) e Macapá (3,9%).
Os percentuais obtidos para os estados e as capitais não devem ser comparados, pois não são considerados significativamente diferentes entre si em função do intervalo de confiança dessas estimativas.
Essa foi a primeira vez que o IBGE coletou dados sobre a orientação sexual da população brasileira. As informações foram divulgadas em caráter experimental, pois ainda não atingiram um grau completo de maturidade em termos de harmonização, cobertura ou metodologia. Até então, a estatística disponível sobre a temática LGBTQIA+ no Instituto era a de casais do mesmo sexo.
A PNS captou a orientação sexual de forma similar à utilizada em grandes pesquisas domiciliares que realizam esse tipo de investigação pelo mundo. A comparação dos resultados mostra que os dados da PNS não estão aquém dos gerados por outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a coleta da orientação sexual pela autodeclaração é realizada desde 2013, a National Health Interview Survey (NHIS) mostrou que, em 2018, 3,2% das mulheres e 2,7% dos homens norte-americanos se declararam homossexuais ou bissexuais. No Brasil, a PNS, primeira experiência relacionada ao tema, mostrou que esses percentuais foram de 1,8% e 1,9%, respectivamente.
Os dados sobre orientação sexual foram coletados, em 2019, no módulo da PNS que investigou a atividade sexual, destinado aos moradores de 18 anos ou mais. Seguindo a metodologia da pesquisa, o entrevistado foi selecionado aleatoriamente, dentre os moradores do domicílio no momento da entrevista, para responder sobre sua orientação sexual. Ele respondeu à pergunta “Qual é sua orientação sexual?” e teve as seguintes opções de resposta: heterossexual; homossexual; bissexual; outra orientação sexual; não sabe; e recusou-se a responder.
Ciente de que esse tema é sensível, o IBGE buscou assegurar, durante a entrevista, a privacidade para que o informante pudesse responder à pergunta, sendo inclusive oferecido que ele mesmo preenchesse a resposta no Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), utilizado pelos entrevistadores para o registro das informações.
“Tivemos esse cuidado porque sabemos que o estigma social existente sobre lésbicas, gays e bissexuais, assim como o medo da discriminação e violência, gera um maior receio do entrevistado informar verbalmente para outra pessoa sua orientação sexual, especialmente em cidades pequenas”, observa Maria Lúcia Vieira.
Assim como outras pesquisas ao redor do mundo, a PNS captou a orientação sexual dos entrevistados a partir da autoidentificação. Não foram investigadas outras dimensões da orientação sexual, como atração ou comportamento sexual. A coordenadora da pesquisa explicou que há pessoas que se sentem atraídas por outras do mesmo sexo, ou que ainda praticam sexo com pessoas do mesmo sexo, mas que não se identificam como lésbicas, gays ou bissexuais.
“O fato de uma pessoa se autoidentificar como heterossexual, não impede que ela tenha atração ou relação sexual com alguém do mesmo sexo. Para a captação dessas diferentes formas de avaliar a orientação sexual, seria necessária a investigação do comportamento e da atração sexual, conceitos diferentes da autoidentificação, que não foram investigados na PNS”, explica Maria Lucia.
A PNS não coletou dados sobre identidade de gênero, mas o IBGE estuda metodologia para incluir esse tema em suas pesquisas, “A coleta dessa característica da população nas pesquisas domiciliares requer uma abordagem diferenciada e estudos complementares por parte do Instituto.”, disse a coordenadora da pesquisa.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em parceria com o Ministério da Saúde, visitou mais de 100 mil domicílios, no país, em 2019. Ela abarca mais de 20 módulos temáticos relacionados à saúde da população e aos impactos nos serviços de saúde do país. Sua primeira edição aconteceu em 2013 e, na segunda e mais recente edição, realizada em 2019, novos temas foram introduzidos. Veja os módulos temáticos da pesquisa já divulgados aqui.