Valor do frete é diretamente influenciado pelo custo do diesel, aponta a TRA Logística, especializada em transportes, e que atende industrias da ZFM
(Foto: Pozzebom)
Embutido em praticamente todos os produtos, o valor do frete é diretamente influenciado pelo custo do diesel. O combustível acumula alta na bomba de 82% desde o final de 2018. À época, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), o litro do diesel comum era comercializado a R$ 3,80 e hoje nos postos chega, em média, às mãos do consumidor manauara a R$ 6,90.
Fazer essa conta caber no orçamento é um desafio diário na TRA Logística, empresa especializada em transportes, que atende principalmente as indústrias situadas no Polo Industrial de Manaus (PIM). Segundo o empresário Gilvan Huosell, desde 2018, o valor de um frete Manaus-Boa Vista, por exemplo, saiu de R$ 4,5 mil para mais de R$ 8 mil.
Se calculados os valores por tabela para as várias localidades nas quais a empresa atua, de acordo com ele, o valor subiu em média 60% em três anos considerando todos os custos logísticos que, além dos combustíveis, englobam valores administrativos, manutenção de veículo e segurança.
Negociações
“Está difícil porque o aumento de preços tem mexido muito com a nossa estrutura de custos e o diesel tem uma participação muito grande principalmente nas nossas viagens. Então toda hora precisamos estar negociando alguma coisa com o cliente”, contou o empresário.
E não é para menos. Levamento realizado pela Ticket Log apontou que o combustível, nos tipos comum e S-10, vendidos no Norte do país, são os mais caros de todo território nacional, com valores entre R$ 7,088 e R$ 7,269, com altas de 3,01% e 3,56%, de janeiro a abril, respectivamente. Nessa conta não entra o reajuste dessa semana. A medida que o preço aumenta, a situação fica mais complicada.
“Não tem como driblar. O diesel nós temos que pagar a vista para o posto, quando a gente consegue fazer um faturamento de no máximo 10 dias, dependendo do posto onde a gente abastece. Mas na estrada tem que pagar em ‘cash’ (dinheiro). Quando a gente recebe do cliente demora pelo menos 20 dias (para pagamento), tem cliente que paga com 75 até 90 dias”, esclareceu o empresário.
Novas contratações na empresa estão condicionadas a contratos temporários de prestação de serviços. Para reduzir os custos das viagens, Gilvan disse que a saída dos veículos tem sido retardada para que mais cargas possam sair juntas para o mesmo destino, e, segundo ele, a situação tem se repetido em diversas transportadoras, inclusive nas de grande porte por conta da imprevisibilidade do aumento dos combustíveis.
Do dia pra noite
“Se avisassem que daqui a três meses terá um aumento do diesel, a gente se programa, mas aumentar do dia pra noite fica difícil. A Petrobras anuncia que amanhã vai ter um aumento, mas você [empresário] não pode fazer a mesma coisa com os teus clientes. Não existe isso. Aí depois o presidente manda embora o ministro como se ele fosse o culpado. O culpado é o ‘Bolsovírus’ mesmo, infelizmente”, afirmou.
Gilvan Huosell lembra que já presenciou casos em que transportadoras passam as cargas para outras empresas para não perder os clientes, mesmo com o custo sendo maior do que o frete.
“É o desespero de muitos transportadores. Aí quando você vai ver a empresa fecha, porque não consegue sobreviver. Não existe milagre. A gente fica assustado e preocupado. Quantas vezes eu pensei em vender a empresa, dizendo: chega de sofrer, mas aí estamos sendo resistentes igual Amélia, fica apanhando o tempo todo”, lamentou.
Comentário
Deyvid Bacelar Coordenador da Fed. dos Petroleiros
‘É urgente abrasileirar o preço’
Reajustes abusivos nos derivados de petróleo no mercado interno adotados pela gestão da Petrobrás, com base na política de Preço de Paridade de Importação (PPI), garantem altos lucros a acionistas, que receberão dividendos de R$ 48,5 bilhões relativos ao exercício de 2022, em menos de seis meses após a mega distribuição de R$ 101 bilhões do exercício anterior.
O foco da Petrobras hoje é gerar e distribuir valor, principalmente para acionistas privados. Mais de 45% são investidores estrangeiros, com ações da Petrobrás nas bolsas de São Paulo e de Nova Iorque. Socializamos os investimentos e privatizamos os lucros.
Com essa política de preço, que tem impacto nefasto no custo de vida, a inflação cresce e a renda média do brasileiro cai. Quem paga os dividendos para os grandes fundos de investimentos nacionais e internacionais é o povo brasileiro. Se a Petrobrás comemora recordes na produção, com o custo majoritariamente em real, por que a população segue pagando em dólar? É urgente abrasileirar o preço dos combustíveis.
Coordenador do Movimento dos Caminhoneiros do Amazonas, Edmilson Aguiar, afirmou que a categoria tem sofrido com a sequência de aumentos dos combustíveis. E têm sido “bombardeada” para “atacar o governo federal”. O caminhoneiro disse que Bolsonaro não pode reduzir o preço do diesel porque o STF proibiu.
“A gente fica triste e lamente. Hoje o preço do diesel que já foi subsidiado é mais caro do que o preço da gasolina e só vai piorar. No meu entendimento, essa situação só vai acabar após as eleições. Hoje em média 70% do frete vai para o diesel. Eu abasteci ontem em Manaus e cheguei em Boa Vista, recebi e o dinheiro foi só pra pagar diesel o que sobra pra gente é muito pouco. Toda a categoria passa por essa situação”, declarou.
Além do aumento do diesel, segundo Edmilson, outra situação tem impactado a atividade dos caminhoneiros: a “operação tartaruga” da Polícia Rodoviária Federal que, desde o ano passado, tem buscado o aumento do piso salarial da categoria e, para isso, tem retardado as liberações das cargas nos postos da PRF e tem atrasado entregas em todo o país.
Não existe decisão do STF proibindo o presidente de reduzir o preço dos combustíveis.
Diego Magalhães Gerente de vendas de veículos
“O valor dos combustíveis influencia, pois os caminhoneiros reclamam que não é repassado no frete, tendo que pagar por esse aumento dos combustíveis, e muitos deixam de comprar pois não conseguem ver mais o setor de transporte como um meio de ganhar dinheiro. Sendo assim não vendo caminhão. Os caminhões seminovos se equiparam pelo valor de tabela Fipe e pelo implemento do caminhão. Então, na concessionária se o caminhão hoje está custando R$ 200 mil e o mesmo caminhão que eu tenho sendo do ano de 2010, ele equivale equiparado com um valor a um caminhão novo. Por isso a demanda dos preços do caminhão tão alta”, explicou o gerente de vendas de uma concessionária, Diego Magalhães sobre a dificuldade para venda dos veículos a diesel, após os consecutivos aumentos promovidos pela Petrobrás, que derrubam os lucros das empresas e de autônomos que têm buscado cada vez menos investir no setor. Ele é um dos vários anunciantes de caminhões, dos mais diversos valores e modelos, encontrados pela reportagem em um site de vendas do produto.