“A gente está fazendo só comida na lenha. A gente tem um desses em casa a gente faz essas coisas todas no fogão a lenha. O gás está muito caro".
(Foto: Arlesson Sicsu)
Duas irmãs cozinham a lenha improvisada em uma lata de tinta os acompanhamentos do churrasco que comercializam no cruzamento da avenida Autaz Mirim, bairro Cidade de Deus, zona Leste de Manaus. Esse é o retrato de uma situação que pode ser mais frequente com o aumento do preço do gás de cozinha anunciado na semana passada pela Petrobrás e que já reflete desde sexta-feira nos pontos de venda da capital amazonense.
A autônoma, Elizete Silva de Souza, conta que desde dezembro não compra botija de gás e a motivação não poderia ser outra: o alto custo do produto. Em alguns pontos de revenda da capital, o botijão é vendido a R$ 130, aumento de 12,5% em relação à semana passada quando era comercializado em média a R$ 104, conforme último levantamento da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP). O valor ainda é abaixo dos 16,6% anunciado pela Petrobras.
‘Valeu a pena’
Elizete e a irmã, Erizete Silva de Souza vendem a R$ 6 a refeição com carne ou frango. A banca é uma das rendas da família que é composta por 11 pessoas. Segundo ela, a economia é de pelo menos R$ 115, base do preço anterior do botijão, e apesar de demora para os alimentos serem cozidos, a troca valeu a pena.
“Se tivesse mais barato dava para comprar [a botija de gás]. Querendo ou não aqui o churrasquinho vem, essa minha irmã para ajudar o que eu vendo eu dou uma ponta para ela, não é muita coisa, mas querendo ou não ajuda ela”, destacou.
No momento em que a reportagem de A CRÍTICA esteve no local, elas preparavam um tacacá para vender à tarde no mesmo local. A irmã dela revelou ainda que o forno à lenha já é usado inclusive em casa. Desde que elas aderiram ao forno a lenha, a redução dos gastos permitiu que elas mantenham o valor repassado para os clientes no mesmo patamar, mas o lucro ainda permanece pouco.
Só na lenha
“A gente está fazendo só comida na lenha. A gente tem um desses em casa a gente faz essas coisas todas no fogão a lenha. O gás está muito caro. Demora, mas vale a pena, porque é mais econômico”, reforçou Erizete.
O impacto do gás de cozinha nas contas é sentido também por outros comerciantes. O autônomo Altemir Marques que há 6 anos vende salgados em frente a um grande supermercado na Zona Leste diz que tem sido difícil até se alimentar com o lucro que tira das vendas. Já Isac Barroso que vende churrasco no mesmo local diz que está segurando o máximo que pode o preço para não perder a clientela.
“É tudo que sobe. É gás, gasolina, óleo diesel, óleo de cozinha. É tudo. Eu comprava [os salgados] de R$ 1,50 agora está R$ 1,80. Só mesmo Deus na nossa causa, porque as coisas estão difíceis. A gente não tira quase lucro, quase não dá para comer”, desabafou Altemir.
“A gente aproveita quando tem promoção. Eu estou segurando aqui ao máximo para não passar pro consumidor. Eu vendo o espetinho a R$ 4 o simples e R$ 6 e tem várias pessoas que ainda acham caro”, disse Isac.
O anúncio do novo preço do gás de cozinha foi feito pela Petrobrás ocorre após 152 dias de estabilidade. Junto com ele também aumentaram a gasolina com aumento de 18,8% e o diesel com 24,9%.
Inaldo Seixas - Economista
‘É retrocesso muito grande’
Os impactos dessa subida de preços pode se dar de diversas formas e essa é a forma mais cruel. Primeiro para a população tem que abandonar o gás de cozinha e tem a questão ambiental que é voltar a queimar lenha. É um retrocesso muito grande essa política de preços da Petrobras.
Nós temos petróleo e gás suficientes para conter os custos de produção local, podemos dar uma salto energético sem haver inflação, porque os nossos custos de produção são locais. Não precisamos ter o valor do petróleo vinculado ao mercado internacional. Isso é o que normalmente se faz para agraciar os acionistas privados da Petrobrás que querem ganhar lucro exorbitantes às custas do suor e do retrocesso do trabalhador brasileiro.
Precisamos deixar claro que a Petrobras foi criada para ser um instrumento de desenvolvimento, não uma empresa para gerar lucro. Se ela gera lucro está mostrando eficiência, mas ela não pode ter como único fim o lucro para distribuir para os acionistas, porque majoritariamente os acionistas é o povo brasileiro.
Empresa explica
A Fogás esclareceu que dos 15,9% reajustados pela Petrobrás repassou 12,4% do valor para os preços dos botijões. O novo preço está valendo desde sexta-feira. Segundo a empresa, estão inclusos também os valores do ICMS e o aumento dos custos com transporte e distribuição decorrentes do aumento do óleo diesel. A empresa reforçou que os preços para o consumidor final são livres.