Inflação no Brasil

Em Manaus, retomada econômica de restaurantes é 'freada' por alta no preço de alimentos

Inflação da cesta básica no Amazonas faz com que trabalhadores do ramo alimentício tenham que 'se virar' para não repassar custo extra a clientes

Lucas Vasconcelos
28/05/2022 às 07:54.
Atualizado em 28/05/2022 às 08:38

Solange Araújo, dona do restaurante Casa Cheia, no bairro Armando Mendes, diz que a alta dos preços pode levar ao fechamento do estabelecimento (Foto: Gilson Mello/Free lancer)

Se a pandemia do coronavírus foi um fator que dificultou o rendimento de diversos empresários, inclusive no segmento da alimentação, o aumento no preço dos combustíveis e, consequentemente, no valor dos insumos de produtos alimentícios só agravou os desafios dos donos de restaurantes em Manaus.

Pelo segundo mês consecutivo, o preço da cesta básica aumentou, passando de R$ 302,93 em março, para R$ 308,51, em abril. Os dados são da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (CDC/Aleam), que realizou um levantamento nos dias 28 e 29 de abril, em dez supermercados da capital.

Ao todo, foram analisados 13 itens considerados essenciais. A variação encontrada entre os preços de diferentes supermercados foi de 47,25%. Conforme a pesquisa, a cartela de ovos, o óleo de cozinha, o detergente, o macarrão e o achocolatado foram os itens com maior reajuste.

Marmitas mais caras

Estes aumentos impactaram diretamente no preço das refeições conhecidas como "marmitas" na capital. Para a administradora Solange Araújo, dona do restaurante Casa Cheia,localizado na avenida Autaz Mirim, bairro Armando Mendes, Zona Leste, a "marmita", que era vendida por R$ 13, passou a ser comercializada por R$ 15.


Com a alta dos preços dos alimentos, restaurante teve que aumentar de R$ 13 para R$ 15 o valor da 'quetinha' (Foto: Gilson Mello/Free lancer)

 "Confesso que com o aumento dos alimentos diminuiu bastante o movimento porque tive que também reajustar os valores. Por diversas vezes tive que jogar comida fora, é um ramo muito oscilante. Tentei colocar no peso mas aqui na área não deu muito certo. O cardápio é o mesmo. Sim tirei a batata frita que acompanhava a marmita", descreveu a empresária.

Solange conta ainda que a margem de lucro caiu nos últimos meses e que teme fechar o estabelecimento, caso o preço dos insumos aumente ainda mais.

"Eu vendia 100 marmitas por dia, 120. Caiu muito as vendas. Agora está em 80, 70. Eu espero que melhore porque do jeito que vai, vou acabar fechando. Espero que o valor dos alimentos baixe mesmo. Porque já tem tantas pessoas passando fome. Fica ainda mais difícil com a alta dos preços", ressaltou Solange.

Queda no lucro

Outra empresária do ramo que foi atingida pelos impactos do aumento dos preços é Sabrina Sa, dona do Restaurante e Confraria Capixaba, estabelecimento que coordena ao lado do marido, no bairro Ephigênio Salles.

A empresária conta que inicialmente o restaurante funcionava também como pizzaria pela parte da noite, mas  com a pandemia, teve que reduzir o expediente para não sair no prejuízo. Agora, com o aumento do valor dos insumos, também precisou fazer um reajuste no valor da "marmita", passando de R$ 15 para R$ 17.

Sabrina observou que, nos últimos meses, o fluxo de consumidores de seu restaurante diminuiu. Ela acredita que seja por conta dos clientes optarem por economizar.

"Hoje, 80% do nosso fornecimento é para pessoas próximas ao nosso restaurante. E com tudo isso, a gente consegue observar que nem todo mundo que almoçava todos os dias antes desse aumento, conseguiu manter essa rotina de almoçar fora diariamente. Mesmo com o aumento de R$ 2, isso impacta diretamente a sua vida financeira. Muitos optam por outras alternativas como trazer comida de casa, por exemplo", apontou.

Assim como Solange, Sabrina também teme os impactos que a inflação pode causar a longo prazo. Mas, segue resistindo e acreditando em dias melhores.

"Todos os dias tentamos oferecer o máximo de qualidade para nossos clientes. Nem todos os dias são flores. Já pensamos várias vezes em desistir por termos formação em outras áreas, talvez tentar voltar ao mercado de trabalho. Eu costumo dizer que o empresário do ramo alimentício, ele não vive, ele sobrevive. Não pelo valor que ele vende a marmita e sim pela quantidade. Ele precisa vender muito para ganhar pouco. E nesse muito que ele vende, ele consegue ter algum retorno de lucro", confessou.


Redução do preço combustível como solução

Para o economista Eduardo Souza, o principal fator que influencia no aumento do valor dos insumos alimentícios é o alto preço dos combustíveis. Souza defende que para evitar prejuízos em grande escala, como o fechamento de estabelecimentos, gerando desemprego e perda de arrecadação tributária, o poder público deve criar mecanismos para reduzir o preço do combustível.

"O poder público não tem um controle muito efetivo sobre o preço desses insumos que vai variar conforme a flutuação de mercado. O que pode ser feito é você tentar reduzir os impostos que vai impactar de forma positiva sobre esses alimentos. Isso vai estimular uma oferta maior e consequentemente você vai ter uma redução do preço. Quando você reduz a tributação, o preço do arroz e feijão tende a ser um pouco menor, facilitando para o empresário", pontuou Souza.

O economista ainda deu dicas para os empresários que podem ajudar a contornar a situação para evitar ter que fechar os empreendimentos.

"Existem várias formas de você tentar driblar essa margem de lucro baixa. A principal delas, e mais utilizada, é repassar esse aumento ao consumidor. Se você teve uma perda de 10% na sua margem de lucro, o ideal é que você repasse esses 10% no preço final para você voltar a ter lucro. Ou buscar medidas indiretas. Você pode modificar os pratos por itens de menor custo, para tentar recuperar essa margem de lucro sem ter que repassar o preço final ao consumidor. Tentar substituir uma proteína mais cara por uma com custo menor", finalizou o economista.

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