Perspectiva

Gari: profissão que merece mais respeito por parte da população

Profissionais da limpeza urbana contam sobre a labuta, as alegrias e tristezas que passam no dia a dia e o orgulho de serem garis

Lucas Vasconcelos
15/05/2022 às 16:29.
Atualizado em 16/05/2022 às 12:19

Para muitos, o trabalho começa ainda na madrugada, antes de sair de casa (Gilson Mello/Freelancer)

Cansativa, desafiadora e resiliente. Se me perguntassem como é a rotina dos garis em Manaus, essas seriam as características que usaria para definir o dia a dia destes profissionais tão essenciais para a sociedade.

E como forma de tentar entender o que os profissionais de limpeza pública passam, resolvi encarar uma pauta de imersão e passar uma manhã sendo gari. E, de antemão, já adianto: não é fácil.

A jornada começa antes mesmo de chegar ao local de trabalho. Tive a sorte de morar próximo à Praça do Leme, bairro Compensa - primeiro dos quatro locais definidos pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semuslp). Entretanto, para o gari Charles Sena, de 37 anos, é necessário acordar às 4h para conseguir chegar à sede da Semulsp.

“Como moro na zona Leste, preciso acordar bem cedo para poder chegar ao trabalho. Moro sozinho com meus três filhos de quatro, cinco e seis anos. Acordo 4h, faço o café, arrumo as crianças para irem para escola, espero a babá chegar e vou pegar o primeiro ônibus. Depois de descer no terminal, pego outro ônibus para poder chegar aqui antes das 6h”.

Há quase dois anos, a rotina de Charles é essa, de segunda à sábado, assim como a rotina dos 15 garis da sua equipe. Porém, no ano passado Charles perdeu sua esposa para a Covid-19 e isso quase o fez desistir da vida.

"Minha mulher faleceu de Covid-19 e fiquei sozinho com meus três filhos. Não tinha com quem ficar em casa com as crianças. Mas estou criando, corri atrás de uma babá. Vim para cá trabalhar, ocupar a minha mente. Passei por depressão e o trabalho de gari foi o que me fez esquecer e não pensar em coisas ruins", descreveu o gari.

Charles, no dia em que estávamos acompanhando a rotina dos garis, contou à equipe de reportagem que estava exercendo a função de varredor. Mas, disse que é comum, os garis revezerem nas funções de varredor, roçador, enxadeiro, jardinagem...

Entendendo mais

E para entender mais sobre, conversamos com o coordenador de operações Alan Araújo, de 41 anos, que desde 1998 trabalha no ramo da limpeza pública. Hoje, Alan é coordenador de operações de equipes de garis em Manaus e tem muito orgulho de sua profissão. Mas, nem sempre foi tranquilo trabalhar como gari.

Alan conta que durante estes quase 25 anos de trabalho árduo, já chegou a se acidentar por conta do lixo mal descartado pelas pessoas.

“No lixo a gente encontra de tudo né? Desde garrafas de vidro quebradas, seringas e até bichos. Já encontramos lagartos, jacarés e até cobras. Apesar de usarmos luvas e materiais de proteção, já me cortei duas vezes por conta das pessoas não guardarem o lixo da maneira correta. O certo seria embalar em uma caixa ou colocar o vidro quebrado dentro de uma garrafa PET”, detalhou Alan.

Data para celebrar e homenagearO Dia do Gari é comemorado anualmente no dia 16 de maio, em todo o Brasil. A data foi instituida em 2011, como formar de prestar homenagens aos profissionais de serviço de limpeza pública.

No final da conversa, Rosana Santos resolveu deixar uma mensagem à sociedade brasileira em relação ao respeito que os garis merecem ter.

“Ser gari é um orgulho que tenho porque foi de lá da varrição, capinação que eu comecei a minha história. Gari não é fedorento, gari é cheiroso. Tudo isso aqui plantado é o gari que faz. Se não fôssemos nós como seria a cidade? Não seria limpa. As pessoas tem que reconhecer o profissional. Tem muitos que não respeitam. Já passei por isso e dói. Você chegar na casa da pessoa e ela te dá água naqueles potes de leite moça porque tem medo que a gente tenha alguma doença. Só Deus sabe o que nós passamos, então desejo que as pessoas valorizem mais a nossa profissão”, declarou Rosana.
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