Embora negue ligação com decreto de redução do IPI, empresa diz ter feito “longo estudo” envolvendo a logística do Amazonas
(Foto: Gilson Mello)
Em nota enviada para A CRÍTICA, o Grupo Heineken informou que irá sugerir ‘um pacote de desligamento competitivo’ aos 18 funcionários da fábrica em Manaus, o que significa que haverá acordo com os colaboradores. A gigante de bebidas começou a transferir, nesta sexta-feira (4) suas instalações da Zona Franca de Manaus para Itu (SP), um dos quatro municípios daquele estado que irão receber, juntos, investimento de R$ 320 milhões da companhia.
O pacote de desligamento competitivo sugerido pela empresa aos funcionários de Manaus é similar ao formato de demissão voluntária, que ganhou maior força durante a pandemia. Na prática, as empregadoras sugerem aos colaboradores algumas opções, como realocação no mercado, recebimento de gratificação com base no tempo trabalhado ou pagamento integral de verbas rescisórias.
“A empresa está em negociação com a liderança do sindicato local para finalizar o plano de transferência desta planta, que já começou na própria sexta-feira, 4 de março. O respeito e o cuidado com as pessoas seguem sendo nossa prioridade. Por isso, estamos oferecendo aos colaboradores um pacote de desligamento competitivo, além de suporte para recolocação profissional em outras unidade da Companhia ou em empresas da própria região”, diz trecho da nota.
Na manifestação, a empresa também destacou que a mudança da fábrica para São Paulo nada tem a ver com o decreto publicado pelo governo federal no último dia 25 de fevereiro, que reduz o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25%. A medida é apontada por representantes da Zona Franca como extremamente prejudicial ao Polo de Produção, o que deve levar a uma saída em massa das empresas.
“A decisão de transferir a operação de Manaus para Itu não tem ligação com a redução do IPI na região. A movimentação integra o plano de crescimento da companhia e de ampliação dos esforços dentro da agenda de ESG, como o de reduzir em 80% o volume de embalagens plásticas até 2025, movimento iniciado em junho de 2021”, afirma a Heineken Brasil.
Em outro momento, a empresa ressalta ainda que a decisão foi tomada “após longo estudo”, e levou em consideração que a mudança para São Paulo fará com que ganhe em “eficiência, em agilidade de transporte dos produtos para pontos de venda e ainda reduzirá a emissão de carbono de transporte logístico”, se referindo às dificuldades logísticas já conhecidas do Amazonas.
Embora negue a correlação, o fato de a empresa apontar necessidade de melhoria em logística mostra um cálculo que deve também ser feito por outras fábricas do Polo Industrial, segundo o economista e advogado, Farid Mendonça.
“Muitas empresas vão fazer suas contas, ver que não é viável ficar aqui e sair. Vamos ter desemprego, isso vai impactar na arrecadação do Estado e consequentemente nas políticas públicas”, destacou ele, em entrevista para A CRÍTICA no dia da publicação do decreto.
Sem contato
A CRÍTICA buscou o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Refrigerantes para saber como está o acompanhamento do processo de demissão dos funcionários da Heineken em Manaus, mas não conseguimos o contato da entidade. Tentamos também uma entrevista direta com o presidente da Heineken Brasil, Maurício Giamellaro, mas a empresa informou que a diretoria não irá conceder entrevistas nesse momento.