Cley Medeiros é um dos 12 jornalistas negros do Brasil a participar de uma imersão de duas semanas nos Estados Unidos
(Foto: Junio Matos)
O jornalista amazonense de A CRÍTICA, Cley Medeiros, foi um dos 12 jornalistas negros do Brasil selecionados para viver uma experiência de imersão nos Estados Unidos da América (EUA). O programa International Visitor Leadership (IVLP), com duração de duas semanas, levará os profissionais de comunicação para conhecer cidades, pontos históricos, intelectuais e culturais da luta pelos direitos civis estadunidenses. Além de estreitar laços e trocar experiências com profissionais residentes do país norte-americano.
Cley Medeiros, que hoje é editor-assistente do Portal ACRITICA.COM, conta sobre como se sentiu ao saber que foi selecionado para fazer parte deste projeto.
“Eu fiquei bastante interessado quando a Embaixada entrou em contato. O IVLP é um programa que não recebe inscrições. Quem participa é indicado pelo Departamento de Estado do governo dos EUA, por meio das embaixadas nos mais diversos países que os EUA possuem relações fraternas e duradouras, e o Brasil é um deles”, comentou Medeiros.
O IVLP é um programa que não recebe inscrições. Quem participa é indicado pelo Departamento de Estado do governo dos EUA, por meio das embaixadas. (Foto: Junio Matos)
O jornalista destacou ainda sobre os recentes ataques que a imprensa vem sofrendo nos últimos anos. Ataques estes que, além de propiciar tentativas de censura, chegam até ameaçar a vida dos profissionais de comunicação.
“A indicação me trouxe uma dose a mais de esperança, primeiro de que há uma intenção de valorização da profissão. Em uma época em que jornalistas são alvos de ataques das mais variadas frentes, inclusive com ameaças e violência, saber que existem programas para fortalecer e ampliar o conhecimento no jornalismo, promovido pelo principal departamento de relações exteriores dos EUA, é motivo de esperança”, destacou.
Medeiros agradeceu também ao A CRÍTICA e a todos os colegas de redação que, segundo ele, foram essenciais para sua formação como profissional.
Questionado sobre o que almeja alcançar após viver a experiência do programa, Cley Medeiros espera ampliar a sua narração jornalística sobre o cotidiano da população negra no Brasil.
“Este programa dedicado a 12 jornalistas negros acontece em um momento vital para consolidar a democracia nas Américas. Uma real democracia passa por uma real transformação nas suas ações para diversidade racial. Contribuir para que este processo seja urgente é o meu principal objetivo”, comentou.
Medeiros acredita que o programa possa aproximar laços com jornalistas negros dos EUA, além de incentivar a criação de uma organização de profissionais negros da área no Brasil, semelhante ao que já acontece em outros países, como a National Association of Black Journalists (NABJ), nos Estados Unidos.
“A viagem também será uma ótima experiência para refletir acerca das dificuldades estruturais de que a população negra nos EUA ainda convive, tornando possível leituras paralelas do cotidiano no Brasil. Também observar como uma democracia madura como a dos EUA realiza suas políticas públicas para diminuir essa desigualdade social, que é um problema mundial”, acrescentou.
Cley Medeiros contou à reportagem quando surgiu o interesse em ingressar na área do jornalismo. De acordo com o amazonense, o desejo de ser um comunicador foi moldado desde a infância.
"Quando era pequeno só conseguia dormir com minha mãe contado histórias. Ela tem habilidade. Nasceu em Nova Olinda do Norte, em uma maloca, e teve que cuidar dos irmãos mais novos. Desde contos da floresta, até ações do dia a dia que ela transformava, de certa forma, em notícia, me prendiam atenção", relembrou Medeiros.
O jornalista acredita que a forma como sua mãe contava histórias e o ensino que recebeu durante todo o seu processo de formação na escola contribuíram para o seu desejo em transmitir informações que a sociedade precisa saber.
"A tática tinha um ótimo resultado também pra fazer com que eu parasse de chorar quando surgiam crises do espectro. Só consegui fazer a ligação entre minha admiração por contadores de histórias, narradores do cotidiano, quando entrei no Ensino Médio. É claro que professores também foram eficientes em transmitir as qualidades de uma boa comunicação. Entendi que, na prática, um bom contador pode ajudar a terminar guerras, a por fim em conflitos, e contribuir para revelar desmandos. E isso me pareceu um bom negócio à época,. Tenho apostado nisso até hoje", descreveu.
Após concluir o Ensino Médio na capital amazonense, Cley Medeiros buscou formação profissional em São Paulo. E foi durante sua vivência no estado paulista que Cley pode aprender grande parte do conhecimento jornalístico.
"Depois do Ensino Médio decidi, com apoio da família, a sair de Manaus para aprender a contar histórias de um jeito profissional, em São Paulo. Aprendi grande parte do que sou hoje nessa vivência de sentar para ouvir, parar para observar e narrar pra causar efeitos. Minhas primeiras experiências no jornalismo deram o tom para oque sou hoje: um contador de histórias reais no mundo digital", acrescentou.
As conquistas não param por aí. Esta não é a primeira vez que Cley Medeiros representou o jornalismo amazonense fora do Estado. No ano passado, Cley foi um dos quatro brasileiros selecionados para desenvolver uma grande reportagem para o The Intercept Brasil, que deve ser publicada em breve.
A paixão pelo jornalismo nasceu ainda desde pequeno e foi se tornando realidade com o passar do tempo, até chegar ao A CRÍTICA (Junio Matos)
"É uma das apurações mais longas da minha carreira até aqui, não poderia ser diferente, já que o TIB é especialista em compartilhar histórias bem apuradas e com boa amarração. Ainda não posso dar detalhes sobre a história, mas tenho a intenção de publicá-la em agosto", contou.
Além disso, Cley Medeiros possui passagem pela Mídia NINJA, responsável por produzir conteúdo para o NINJA Ambiental.
"Atuei como jornalista responsável pelo conteúdo NINJA Ambiental, em ligação direta com a Casa Ninja Amazônia, uma das principais páginas nas redes sobre conteúdo socioambiental na Amazônia", detalhou.