Resíduos sólidos recolhidos no primeiro semestre deste ano, na cidade, geram renda associações que trabalham com reciclagem
Associação de Catadores Filhos de Guadalupe é uma das organizações que geram renda a partir dos resíduos sólidos recolhidos em Manaus (Foto: Jeiza Russo/Freelancer)
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), de janeiro a junho deste ano foram retiradas das ruas de Manaus e encaminhadas para coleta seletiva exatas 321,47 toneladas – resultando em uma média diária de 1,78 ton. O número, que aparenta ser significativo, acaba não abrangendo uma totalidade da capital.
Isso porque um dos principais problemas existentes na capital são as chamadas lixeiras viciadas, que oficialmente são proibidas. Para o ambientalista Carlos Duringa, esta problemática é resultado de uma série de fatores, todos graves.
“A questão do lixo no Amazonas é grave. A quase totalidade dos municípios destinam seus resíduos em lixões a céu aberto e ainda não se adequaram à Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelecida em 2010. Soma-se a isso, a deficiência de políticas voltadas à sensibilização da população para o descarte correto e com isso buscar reduzir o lixo em locais públicos, ruas e espaços naturais. A solução para estes problemas depende de uma gestão responsável e participativa, juntando poder público e sociedade”, opina Carlos.
Uma forma de combater essa proliferação de lixo na capital? A coleta seletiva, que tem não apenas dado uma destinação correta para os resíduos produzidos na capital, como também sido a principal fonte de renda de uma série de trabalhadores.
Se encaixa nesse perfil Lucia Obando, vice-presidente da Associação de Catadores Filhos (as) de Guadalupe (ASCAFIGUAMA), localizada no bairro Monte das Oliveiras, na Zona Norte de Manaus. Trabalhando com reciclagem e coleta seletiva desde 2000, trabalho esse em que não apenas fez carreira como também lhe ajudou a superar a depressão, ela afirma que a situação do lixo passa pela falta de conscientização da população até o modo como a sociedade é constituída.
Vice-presidente da Associação de Catadores Filhos de Guadalupe, Lucia Obando trabalha com reciclagem e coleta seletiva desde 2000 (Foto: Jeiza Russo/Freelancer)
“Hoje a gente vê que muitas pessoas não estão nem aí para cuidar [do meio ambiente]. Se toda pessoa varresse a frente da sua casa no final da tarde, a limpeza pública não seria tão necessária. Tem gente que vai colocar o lixo na frente de casa depois que o carro da coleta passou, e sempre de forma mal colocada – com todo tipo de material misturado. Nosso planeta está pedindo socorro. Trabalhar com reciclagem é algo desafiador. É preciso se tocar também sobre o que você está consumindo, já que o consumismo é um fator que ajuda a poluir”, afirma Lucia.
Funcionando desde 2006, a Associação de Catadores Filhos (as) de Guadalupe trabalha com a Semulsp e também conta com quatro pontos próprios de coleta na Zona Norte de Manaus. De acordo com dados da própria associação, que conta com mais de 100 colaboradores – entre empregados e voluntários -, por mês passam pelo local cerca de nove toneladas de resíduos. Este material, quando chega na Associação é categorizado, e vendido para ter a correta destinação - a maioria para a reciclagem.
De acordo com Semulps e ASCAFIGUAMA, o material mais encontrado nas ruas e lixeiras da capital é o plástico, que também é visto como o mais fácil de se conseguir destinação. Em contrapartida, o vidro é visto com maior dificuldade para ser vendido, fazendo com que a ideia de adotar um processo que transforma esse material em areia, o mais viável para o meio ambiente manauara.
Parceria
Ainda segundo a Secretaria Municipal de Limpeza Pública, atualmente a pasta tem parceria com a maioria das associações e cooperativas de coleta, administrando oito galpões por toda a capital. Além disso, também conta com 28 Postos de Entrega Voluntária (PEV). Alia-se a isso, a chamada coleta agendada, destinada a pessoas que precisam se desfazer de grandes objetos: como camas, geladeiras, etc. Interessados nesse serviço devem ligar para a Secretária, e em até 48 horas uma equipe vai até a residência desta pessoa e recolhe tal objeto – evitando assim o descarte dele de forma inapropriada na natureza.
“Além desse trabalho de logística, nós também temos um trabalho de conscientização. Essas equipes vão de porta em porta nos bairros para conscientizar, entregar folders, orientar a população a colocar o seu resíduo no local correto. É o apelo que a gente faz sempre, para que a população possa nos ajudar, porque sozinho a Semulsp não vai conseguir alcançar esses objetivos”, afirma o titular da semulsp, Altervi Moreira.