Altas temperaturas fazem a população buscar mecanismos para amenizar o calor típico do período do ano
Com o verão Amazônico o aumento de vendas de águas nos semáforos tem sido elevado dando lucro para autônomos (Foto: Arlesson Sicsu)
No conhecido “verão amazônico”, entre julho e novembro, os amazonenses precisam lidar com a escassez de chuvas, incidência solar e altas temperaturas. Mas, é no período entre agosto e outubro que a reclamação diária do amazonense é quase unânime: o calor extremo. A reportagem de A CRÍTICA foi às ruas de Manaus para saber como a população tem se comportado diante do cenário.
No cruzamento entre as avenidas Sete de Setembro e Floriano Peixoto, no Centro da capital, mãe e filho vendiam juntos água mineral no semáforo. Ronaldo Dias, de 28 anos, conta que quem começou no ramo foi ele, há 10 anos. Sua mãe, Lucilene Feitosa, 55, resolveu acompanhá-lo depois que a venda de comidas não estava rendendo tanto para ela.
“O período de trabalho é cansativo, mas em compensação é gratificante. O aumento de venda de água está grande! Agora em setembro a gente está conseguindo bater uma meta de 11 a 12 caixas de águas vendidas”, destacou Lucilene.
Eles contam que, a partir de setembro, as vendas de água mineral aumentaram bastante. Antes deste período, eles vendiam em média/dia 5 caixas de água (1 caixa equivale a 12 garrafas). Hoje, eles haviam batido a meta de 11 caixas vendidas. Por outro lado, a rotina de trabalho por conta do calor também ficou mais desgastante, segundo eles.
“Aqui tem que chegar cedo e ter bastante energia, porque senão não consegue vender. E agora nesse período de verão as vendas têm aumentado, graças a Deus. O pessoal compra muita água com essa quentura. É o período melhor pra venda, mas é o que mais cansa”, relatou Ronaldo.
O mesmo cenário de aumento de vendas aconteceu com o vendedor de picolé, Gelson Lopes da Silva, de 45 anos. Ele contou que trabalha no ramo desde adolescente vendendo o famoso “picolé da massa” nas ruas e transportes coletivos de Manaus.
“Cada dia que passa aumenta mais esse calor. Eu já ‘tô’ é acostumado, a gente que trabalha assim como eu, pega esse sol aí e nem sente”, disse o vendedor, que começa a labuta às 8h e volta para casa somente às 19h, com média diária de 200 picolés vendidos.
Sentada em um banco na Praça da Polícia, no Centro da capital, a autônoma Monique Valéria, de 22 anos, não resistiu e se rendeu a um sorvete ‘geladinho’. Ela confessou que o calor estava demais, e por isso aquele já era o segundo do dia. “Ontem, era todo tempo debaixo de água. E o chuveiro é dois minutos esperando a água esfriar. Manaus já é quente e agora está demais”, disse.
Do Ceará para Manaus
Monique, que é cearense e vive em Manaus há 6 anos, disse que em seu estado também é quente, mas lá venta mais por conta das praias e do mar. “Aqui é mais úmido e lá é mais arejado, então, a gente não sente tanto. E a conta de luz? Aumenta! Liga ventilador, liga ar condicionado e mesmo assim ainda é quente. Querendo ou não abre mais a geladeira pra pegar água, compra mais água”, disse.
O vendedor de eletroeletrônicos, Valdo Cavalcante, de 55 anos, afirmou que todo ano nessa época entre agosto e outubro as vendas de ventiladores e aparelhos de ar condicionado também aumentam. Ele que trabalha no ramo há 33 anos destacou que a demanda e o faturamento também aumentaram para os técnicos em instalação e limpeza dos aparelhos.
“Com essa quentura as famílias querem ter um ventilador até na mesa, porque não dá mais pra aguentar. Todo ano essa crescente vai evoluindo mais, e a procura é tanto por ventilador quanto por ar condicionado. Ninguém se acostuma com esse calor não. O dia todo aqui nesse calor. A gente chega em casa estressado”, relatou.
O vendedor também destacou que só no mês de setembro sua loja teve um aumento de 20% nas vendas de ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Segundo ele, as vendas só diminuem a partir de novembro, dezembro e janeiro.
Novos ventiladores
E quem resolveu tirar o dia para adquirir mais ventiladores foi a artesã, Márcia Flexa, de 35 anos, que acompanhada de seu filho carregava pelas ruas do centro de Manaus duas caixas com ventiladores recém comprados. Ela é paraense, mas mora em Manaus há 33 anos, e disse que o calor extremo foi o motivo da aquisição dos novos ventiladores.
Ela contou que os aparelhos serão instalados na igreja em que ela frequenta, que é pequena e já tem cinco ventiladores, mas que com o calor extremo não estavam sendo suficientes para manter o conforto térmico dentro do templo para os fiéis.
E na casa dela a situação também não é diferente. Ela contou que tem um bebê de 2 anos, e acaba tendo que deixar o ar condicionado ligado para não estressá-lo ou causar alergias e assaduras. Porém, a conseqüência vem no final do mês, segundo ela, com o aumento na conta de energia, que em sua residência passou da média de R$ 190 para R$ 500.