Ritmo de subida é o maior desde o início do ano, quando em janeiro registrou subida de 0,71 cm. Especialista cita comportamento atípico pelas chuvas acima do esperado
Apesar de ainda com a cota longe das cheias históricas, medição do Rio Negro já identifica forte ritmo de subida. (Junio Matos)
O nível do rio Negro já subiu 1 metro e 9 centímetros só nos primeiros 14 dias de março. Esse ritmo de subida é o maior desde o início do ano, quando em janeiro registrou subida de 0,71 cm; e em fevereiro o rio encheu apenas 0,60 cm.
Em entrevista ao A CRÍTICA, a pesquisadora em geociências do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Luna Gripp, informou que o nível do rio Negro vem apresentando uma série de comportamentos atípicos causados pelo aumento de chuvas acima do esperado.
"Inicialmente o nível do rio nos primeiros dias de janeiro apresentou-se muito acima do esperado, comparado a nossa série de dados que vem desde o ano de 1902, indicando níveis bem acima do que normalmente é observado. Isso causado por um grande volume de chuvas que ocorreu nas bacias do Rio Negro e do Solimões entre os meses de novembro, dezembro e princípio de janeiro", contou a pesquisadora.
Após isso, a pesquisadora conta que houve uma diminuição de chuvas abaixo do esperado em todas as bacias hidrográficas presentes no Amazonas e isso causou na redução do nível do rio Negro na capital.
"A partir daí observamos uma inversão desse sinal de precipitação. Ou seja, as chuvas que vem ocorrendo muito acima do esperado, passaram a ocorrer muito abaixo do esperado também em todas essas bacias que eu citei [Rio Negro e Solimões]. Isso causou uma inversão do padrão de subida do dos rios e o rio Negro começou a descer. Diferente do que é normalmente observado para essa época do ano o nível do Rio Negro em Manaus entre janeiro e fevereiro ele apresentou uma redução de nível ao longo dos dias", explicou.
Subida do rio esperada
Questionada se essa rápida subida do rio Negro está fora do padrão, Luna Gripp respondeu que o comportamento está dentro do esperado e que ainda é muito cedo para dizer que o rio Negro em Manaus já se encontra no período de enchente.
"Entre fevereiro e março, o rio Negro se reestabeleceu e de lá pra cá, o nível vem apresentando um comportamento dentro do esperado. Apesar de estar ali, no limite da faixa de normalidade, ainda é normal para essa época do ano.", comentou Gripp.
"Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, precisamos esperar pelo menos até o final do mês de março quando a gente já tem uma noção melhor da quantidade de água que tem na bacia para poder dar uma primeira previsão do nível que o rio deve atingir ao final entre os meados de mês de junho ou julho", informou.
Alerta de cheia no Amazonas
Luna Gripp comentou que o CPRM pretende publicar o primeiro prognóstico sobre os rios do Amazonas no dia 31 de março. Os dados analisados são referentes ao primeiro trimestre de 2022 e informam sobre as cheias nos municípios do Amazonas.
De acordo com a pesquisadora, o prognóstico "Alerta de Cheia Manaus", passará a ser chamado de "Alerta de Cheia Amazonas", por conta da inclusão dos municípios Manacapuru e Itacoatiara.
Previsão de chuvas
A pesquisadora acrescentou ainda que no prognóstico será apresentado também uma análise das chuvas que ocorrem no Amazonas, na bacia hidrográfica do Estado e na Amazônia Ocidental. Assim como, a previsão das chuvas para os próximos dias.
"Além das previsões para os três municípios e análise das precipitações, fazemos uma análise também do nível dos rios desde a cabeceira lá do Rio Negro, né? São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, também todo um panorama geral da Bacia dos Solimões", finalizou Gripp.