Olímpio Carneiro e Geraldo Mesquita, ambos com anos de experiência com turismo na Amazônia, relatam momentos de dificuldade durante pandemia, e anseiam por total recuperação do mercado nesta temporada
Presidente Figueiredo é sempre um dos destinos mais procurados por quem vem ao Amazonas (Foto: Reprodução)
A retomada de diversas atividades durante o chamado período ‘pós-pandemia’, bem como a chegada do verão amazônico, deve aumentar o fluxo de estrangeiros e visitantes de outros estados, aquecendo assim o mercado do Turismo no Amazonas. Pelo menos é isso que esperam os empresários do ramo, guias turísticos e demais trabalhadores que atuam neste ramo mercadológico.
Isso porque o turismo foi um dos setores mais afetados pelas restrições econômicas adotadas na esteira da pandemia de Covid-19. Em compensação, é um dos segmentos que mais rapidamente tem reagido na gradual retomada da normalidade na vida cotidiana, a partir de meados do ano passado, isso de acordo com levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
No Amazonas essa retomada do setor turístico já é sentida, mesmo que ainda longe do que muitos considerem ideal. Para o empresário e guia de turismo, Olímpio Carneiro, oficialmente o criador do chamado “Safari Amazônico”, a volta dos turistas pode ajudar o setor a deixar para trás de vezes os prejuízos e traumas trazidos pela pandemia da Covid-19, que só não foi pior por conta da própria população local
“O turismo parou 100%, muitos guias passaram necessidades, muitas pessoas do ramo quebraram. Nós não fechamos porque Deus não permitiu, mas foi uma batalha árdua conseguir passar esses dois anos sem ter clientes. Quem salvou a gente foi o amazonense, já que ninguém vinha para cá, e quando as coisas voltam a funcionar, fizemos promoções para os amazonenses, fazendo girar a economia. Porque que antes amazonense nunca ia [em passeios turísticos]? Porque ele achava que seria muito caro, mas conseguimos contar essa situação durante a pandemia”, relata Olímpio Carneiro em entrevista para A CRÍTICA.
Olímpio Carneiro é uma dos principais nomes do Turismo no Amazonas, tendo patenteado o "Safari Amazônico" (Foto: Jeiza Russo)
Já para Geraldo Neto Mesquista, também conhecido como “Gero”, criador da Amazon Gero Tours, a pandemia deixou várias marcas no turismo em Manaus. No entanto, ainda que aos poucos, e muito com a ajuda da divulgação na internet, o mercado local vem se reestruturando - e promete uma melhora ainda mais visível.
“Com esse problema da pandemia, qualquer negócio ficou ruim, inclusive o turismo. Passei por momentos difíceis, assim como muitos amigos, e tive que parar por quase dois anos, mas agora, graças a Deus, o poder público tem ajudado nessa retomada. Estou fazendo muito trabalho na internet para divulgar o nosso trabalho. Ainda está difícil, mas vamos retomando”, afirma Gero.
Olímpio Carneiro trabalha com turismo desde a década de 1990, enquanto que Gero entrou no ramo ainda aos 17 anos. Com algumas décadas dentro do ramo, Carneiro vê nesta retomada do turismo uma oportunidade para alavancar o mercado, mas também alerta para a necessidade de uma melhor qualificação de mão de obra local.
“O turismo em Manaus é capenga, não tem ordenamento, as pessoas fazem do jeito que querem. Nós não temos um porto descente para embarcar o turista, porque o que temos é uma indecência, e isso precisa ser resolvido. Além disso, por enquanto não, mas quando as coisas melhorarem de vez, vai ficar difícil encontrar mão de obra qualificada, porque os melhores vão estar ocupados já com a agenda cheia. Tenho contato de todos os guias do Amazonas que falam outras línguas, mas eles são poucos, e os demais precisam se qualificar, porque o guia de turismo é o embaixador da cidade, é ele que recebe o turista e vai dar as informações, e vai mostrar a cidade a partir dos seus olhos”, afirma Olímpio Carneiro.
Trabalhando principalmente com turistas vindas da Europa, como Alemães, ingleses e holandeses, além dos brasileiros, Gero Mesquita, afirma que atualmente é mais provável que outros problemas possam causar empecilhos para o mercado turístico mais do que a própria Covid-19.
“A gente percebe que já melhorou bastante, e inclusive estava com um fluxo bom de turistas russos, e chineses, mas com a guerra [na Ucrânia], os números deram uma certa caída. Creio que esses números voltam a alavancar a partir do mês de junho e julho. Está melhorando também porque o brasileiro está viajando muito pelo país, e para a Amazônia, porque está com medo de ir para fora. Manaus é a bola da vez”, afirma Gero Mesquita.
Trabalhando com turismo desde os 17 anos, Gero Mesquita acredita em crescimento do mercado na Amazônia nos próximos meses (Foto: Gilson Melo)
Ainda que tenham abordagens diferentes na forma com que trabalham com o turismo, ambos têm pontos em comum, sendo o principal deles o amor pela profissão.
“Tem que amar o turismo e amar a Amazônia, porque mesmo que não saiba muito, ele poderá aprender. Porque tem muita gente que está em busca de apenas uma oportunidade para poder entrar nesse ramo”, diz Olímpio.
“Só me arrependo de não ter começando antes, porque eu vivo o turismo, respiro isso. É muito bom encontrar pessoas do mundo todo, fazer amizades, pegar um grupo de turistas e levar para alguma comunidade daqui e trabalhar o turismo sustentável, dando vida aquela comunidade de uma forma mais ecológica”, afirma Gero.
Turismo Pós Pandemia
De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (ABRACORP), o faturamento do setor chegou a R$ 869 milhões em março, 2% inferior ao de três anos antes. Já em 2021, o segmento teve receita da ordem de R$ 4,3 bilhões, significativos 18% superior à do ano anterior.
Por sua vez, da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV) afirma que o faturamento do setor no ano passado superou em 37% o de 2020. E o IBGE aponta uma elevação de 17,8% no faturamento global da indústria turística brasileira em abril – R$ 13,2 bilhões –, em relação ao mesmo mês de 2021.