Expansão

Ronda Maria da Penha vai completar 8 anos com mais de 14,7 mil mulheres atendidas

Programa atende mulheres vítimas de violência, com registro de boletim de ocorrência e apoio completo para ela sair do relacionamento abusivo

Jeysy Xavier
25/09/2022 às 08:30.
Atualizado em 25/09/2022 às 09:42

(Foto: Junio Matos)

O choro ofegante da mãe enquanto relatava os 18 anos de abuso se misturava ao do filho de 11 anos, que viveu todo o trauma junto dela. Na lembrança do pequeno, ficou a imagem do pai com um terçado na direção da mãe, em meios aos gritos e palavrões.

“Ele saía todos os dias de casa e na maioria das vezes me deixava trancada, com fome, sem dinheiro e sem telefone. Quando ele voltava já estava bêbado e a sessão de tortura começava, seja física ou psicológica”, conta em depoimento.

Após quase duas décadas, em uma certa manhã ela pegou o aparelho celular e acionou o WhatsApp do Ronda Maria da Penha e mesmo sem acreditar que seria atendia, tomou a decisão de nunca mais voltar para aquele lugar. 

Quem contou essa história foi a sargento Nainny Rayra, 32, uma das policiais militares que integra a equipe da Ronda Maria da Penha há cerca de 1 ano. 

Mais que uma viatura cor de rosa, a Ronda Maria da Penha está ao longo de 8 anos fazendo a proteção e sendo apoio presente às mulheres vítimas de violência doméstica. Por meio deste programa, muitas mulheres conseguiram sair do ciclo de violência e encontraram forças para recomeçar. 

Em oito anos....

Só em Manaus, 14.758 mulheres foram atendidas nesses 8 anos que o programa existe. Além de denunciar e registrar um boletim de ocorrência, as mulheres vítimas de violência doméstica precisam de um apoio completo para conseguir sair do ciclo vicioso de um relacionamento abusivo. 


(Foto: Junio Matos)

 A sargento Tânia Santos, 37, conta que a sua vida se divide em antes e depois do Ronda. Por ter sido vítima de violência doméstica, ela tenta ser para essas mulheres alguém que ela não teve quando ela e sua mãe passaram pela mesma situação.

Para a sargento, a melhor sensação desse trabalho é ver as mulheres voltando a viver e saber que parte disso veio dos cuidados da Polícia Militar, o cuidado com a vida e a saúde mental.

“Uma das nossas visitas foi a uma senhora que viveu abusos por parte de ex-genro, ela ficou com um trauma muito grande que mal conseguia sair e casa. Quando iniciamos sua escuta e atendimento, ela tremia de medo. Nas terapias, ela só conseguia sair se buscássemos em casa, por que ela tinha muito medo.  Até que em um determinado dia, ela me ligou toda feliz e disse:  ‘Sargento, adivinha onde eu estou? Eu estou no ônibus indo para a terapia sozinha!’ Isso pra mim foi de uma importância tão grande que eu me emociono só de lembrar”, relatou ela comovida.

Abusos e traumas psicológicos

As violências psicológicas são as que mais paralisam as mulheres. Segundo a sargento, muitas dessas mulheres permanecem em situações de abusos e traumas por que foram manipuladas e não conseguem ter forças e enxergar que ainda podem ser felizes, e é exatamente esse trabalho que tem sido feito na vida de muitas mulheres por meio do projeto.

Não apenas na capital, o programa Ronda Maria da Penha mobiliza policiais de diversos municípios do Amazonas com operações e até palestras em escolas, para que desde crianças já reconheçam a violência doméstica, seja física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.

Por meio do programa são realizadas atividades sociais com entrega de cestas básicas, kits de higiene às acompanhadas, lugar de acolhimento, atendimento psicológico e cursos de qualificação. 

Uma dessas Marias que foram atendidas pelo Ronda Maria da Penha, e não quis ter seu nome divulgado, relatou que o programa é um apoio para que a lei se cumpra e que a existência dele foi fundamental para que ela conseguisse sair do ciclo de violência que já vivia há 12 anos.

“Vivi 12 anos com um homem que me machucava de todas as formas, porém nunca me bateu. Me humilhava, me traía, ficava com meu salário, passei por dois resguardos sozinha e tantas outras coisas que nem gosto de lembrar. Quando decidi me separar, a Ronda foi minha segurança para que ele ficasse longe de mim, pois eu recebia visitas e tinha a proteção delas. Hoje estou livre e sei que devo isso a vocês também, só tenho a agradecer”, disse emocionada.

Essa Maria e outras mais de 14 mil que foram atendidas pelo programa, parabenizam cada um desses agentes pelo trabalho e pelos 8 anos em dedicação as mulheres da capital e do interior do Amazonas.

Expansão para toda a Manaus

A Ronda Maria da Penha foi criada em 30 de setembro de 2014, inicialmente atendia apenas dois bairros da zona Norte de Manaus, área da 27ª e 13ª  Cicoms. Considerando a aquisição de experiência e os positivos resultados alcançados, em 2018 o então projeto expandiu seu atendimento a toda área da capital amazonense.

Este trabalho é realizado em parceria com outros órgãos que atuam de maneira integrada formando a chamada “Rede Rosa”, dentre os quais estão o Tribunal de Justiça, por meio dos Juizados Especializados da Violência Doméstica, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Secretaria Executiva de Políticas para Mulheres, Instituto Médico Legal com a Sala Rosa, A Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania -SEJUSC, Delegacias Especializadas em Crimes Contra a Mulher – DCCM e a Secretaria de Estado de Assistência Social- SEAS, dentre outros, que e agem em conjunto no enfrentamento de todos os tipos de violências.

Atendimento

Atualmente a base da Ronda Maria da Penha funciona no prédio da 13ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), localizada na avenida Nossa Senhora da Conceição, bairro Cidade de Deus, zona Norte de Manaus, todos os dias, das 08:00h às 18:00h. 
Há três salas de Acolhimento RMP, localizadas em cada uma das três Delegacias Especializadas em Crimes Contra as Mulheres - DECCM, onde as vítimas recebem as orientações de segurança e acompanhamento.
E se precisar, só chamar a Ronda Maria da Penha pelo linha direta (WhatsApp) 98842-2258.

Vítimas de violência

O programa realiza dentro da Polícia Militar do Amazonas atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar e que estão em medida protetiva, sendo diretamente subordinada ao Comando de Policiamento Metropolitano. 

  

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