Ato também pede justiça pelos assassinatos do indigenista licenciado da Funai, Bruno Pereira, e do jornalista britânico Dom Phillips
Servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Manaus vão referendar, nesta terça-feira (21), adesão à greve nacional que está sendo organizada pela Associação Nacional de Servidores da Funai (Ansef), organização de Indigenistas Associados (Ina) e pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). O protesto ocorrerá na quinta-feira (23), às 10h (horário de Brasília), em todas as capitais do país e no Distrito Federal.
“Realizamos uma plenária nacional na sexta-feira e aprovamos essa greve. Amanhã iremos discutir a pauta com os servidores e referendar nossa participação na mobilização que ocorrerá na quinta-feira”, afirma um dos diretores do Sindicato de Servidores Federais do Amazonas (Sindsep-AM), Menandro Sodré.
Para a reportagem, ele pontuou que a greve é um pedido de justiça pelos assassinatos do indigenista licenciado da Funai, Bruno Pereira, e do jornalista britânico, Dom Phillips. A mobilização também pede a demissão imediata do presidente do órgão, Marcelo Xavier, considerado por indigenistas e indígenas como um gestor “anti-indígena”. A previsão é de paralisação total por 24h.
“Estamos trabalhando para que a mobilização aconteça em todo o Amazonas. Inclusive, amanhã, depois da assembleia, uma funcionária irá para Tabatinga, onde pretendemos também realizar o ato. Faremos o mesmo em Atalaia do Norte”, disse Menandro, se referindo a municípios em que há coordenações regionais da Funai no Amazonas.
A assembleia desta terça-feira ocorrerá na sede da Funai, em Manaus, às 9h. O Sindsep-AM solicitou a utilização do auditório do órgão, mas a coordenação não autorizou o pedido. “Não foi possível atender, mas os servidores estarão liberados para participar”, disse o coordenador da Funai em Manaus, tenente coronel Francisco de Souza Castro, para A CRÍTICA.
Órgão anti-indígena
Neste mês, a organização Indígenas Associados (Ina) divulgou um dossiê com mais de 200 páginas que denuncia “os mecanismos utilizados pela atual gestão da Funai para tentar constranger servidores e subverter princípios basilares”. Os documentos são o resultado de um trabalho que durou três anos e meio, em parceria com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Em entrevista para A CRÍTICA, o servidor Rubemar Torá, da Funai em Humaitá (AM), disse que o governo federal “é um descaso com os servidores” do órgão. Além de funcionário público, ele é indígena do povo Torá, que vive em maioria nas margens do rio Marmelos, no Amazonas.
“Eu mesmo até voltei para a minha aldeia porque aqui na região de Humaitá queimaram nossa sede da Funai em 2013 e ninguém foi punido, nada foi feito. Agora teve esse crime bárbaro contra o nosso colega [Bruno Pereira]. Nossas vidas não têm segurança, por isso estamos sendo ameaçados por invasores. Tudo isso porque o nosso país está nas mãos de pessoas contra a preservação do meio ambiente”, disse ele.
A reportagem procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai) para saber como o órgão se posiciona a respeito das denúncias feitas pelos servidores, porém, até o momento não obtivemos retorno. Até o fim da tarde desta segunda-feira também não havia qualquer manifestação do presidente do órgão, Marcelo Xavier, nas redes sociais, a respeito da greve marcada para quinta-feira.