Igarapés poluídos

'Velho problema': vazante do rio evidencia acúmulo de lixo em Manaus

Descida das águas, nas áreas próximas ao rio Negro ou igarapés, expõe toneladas de lixo doméstico, quase sempre garrafas e sacos plásticos

Lucas Vasconcelos
09/07/2022 às 08:38.
Atualizado em 09/07/2022 às 08:38

Morador percorre uma ponte de madeira sobre um igarapé repleto de lixo, no bairro São Jorge, na região da rua da Cachoeira (Foto: Junio Matos)

O fenômeno da vazante do rio Negro já começou em Manaus. Até sexta-feira (8), o nível do rio atingia a marca de 29,50 metros, duas semanas após ter atingido 29,75 metros - esta já é considerada a quarta maior cheia histórica em 100 anos.
Ainda que a enchente traga diversos problemas e riscos à população, com a vazante não é diferente. À medida que o rio desce, outro problema surge: o acúmulo de lixo nos igarapés e córregos da capital.

Um destes pontos é a rua Manoel Rosset, localizada às margens do igarapé do bairro Educandos, zona Sul de Manaus. Apesar do nível do rio estar alto, já é possível ver e sentir o odor do acúmulo de lixo no entorno.

Para Chris Magalhães, de 46 anos, moradora do Educandos há mais de quatro décadas, esse problema já é antigo.

"Nós não jogamos lixo nos rios. O lixo que chega na porta das nossas casas vem pelo rio de outros lugares. Isso todos sabemos que não é de hoje. Durante todo o tempo que moro aqui isso acontece. Eles [órgãos públicos de limpeza] vem aqui quando o rio sobe, mas nem sempre retornam quando o rio desce para retirar o lixo", comentou.

Quando questionada sobre o que mais incomoda com o acúmulo do lixo, a moradora não hesitou em falar sobre o mau cheiro e principalmente as doenças causadas pelos resíduos.

"Aqui tem vezes que não dá para suportar o cheiro ruim que vem do lixo. Mas acho que o pior problema que dá são as doenças que vem. A gente sente coceiras no corpo, principalmente as crianças. Tem crianças que moram por aqui que já tiveram febre e adoeceram por conta disso", acrescentou.

Beleza do passado

Já o morador Antônio Lopes Dantas, de 51 anos, contou ao A CRÍTICA que o bairro Educandos nem sempre sofreu com esse problema. Segundo Dantas, vintes anos atrás era possível tomar banho nos igarapés.


Antônio Lopes Dantas, de 51 anos, contou que o bairro Educandos nem sempre sofreu com o problema do acumulo de lixo nos igarapés (Foto: Junio Matos)

  

"Eu particularmente acho muito bonito. Morar de frente pro rio, ter essa bela vista da janela da minha casa, não tem nada melhor. O Educandos nem sempre foi assim, sabe? Moro aqui a minha vida toda. Antigamente, uns vinte anos atrás a gente podia sair de casa, pular no rio, se divertir em família. Não tinha lixo, não tinha doença", relembra o morador.

Dantas acredita que é preciso incentivar em educação para a população manauara desenvolver um comportamento sustentável.

"A gente vê um povo muito mal educado. Eu jogo meu lixo no lugar certo e muitos moradores aqui da rua fazem o mesmo. Infelizmente nem todos pensam assim. E isso, começou a acontecer por esses anos. Imagina como vai ser daqui pro futuro. Não consigo nem pensar como vai ser", alertou.

Camadas de lixo

Outro ponto de Manaus que sofre bastante com o acúmulo de lixo é o bairro São Jorge, localizado na Zona Oeste de Manaus. Dione Menezes, de 48 anos, que mora na rua Ambrósio Aires há dois anos, acabou perdendo a casa na enchente deste ano.


Um misto de água fétida e entulhos embaixo das casas compõe a paisagem da área às margens do igarapé que corta o bairro São Jorge (Foto: Junio Matos)

 Segundo Menezes, a enchente derrubou sua casa há dois meses, mas até agora os órgãos públicos não vieram tomar providências.

"A enchente derrubou a minha casa em abril. Eu queria que as autoridades pudessem prestar atenção que minha situação é alarmante, não tenho mais casa. A situação está bem difícil".

O morador do São Jorge destaca ainda o acúmulo de lixo que tomou as ruas do bairro. "A gente além de morar praticamente dentro da água, ainda temos que enfrentar esse lixo que vem pelo rio. Temos aqui praticamente uma passarela toda feita de lixo. Fora o mau cheiro e os animais que aparecem aqui. Já apareceu muita cobra e jacaré", destacou.

Limpeza pública

Mais de 4 mil toneladas de resíduos foram retiradas dos igarapés de Manaus, só em 2021. Os dados são da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), divulgados no início do ano.

A reportagem da A CRÍTICA solicitou uma nota questionando quais ações estão sendo tomadas para fazer a retirada dos resíduos encontrados em lugares afetados pela cheia. A reportagem também procurou a Defesa Civil do município para saber dos procedimentos adotados neste ano e aguarda o posicionamento dos órgãos.

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