Segurança Digital

Vítimas de golpes relatam fraudes digitais

Cada vez mais frequentes, golpes digitais fazem vítimas em todo o Brasil. Amazonenses relatam prejuízos ao cair em armadilhas cada vez mais elaboradas pelos criminosos

Lucas Vasconcelos
12/06/2022 às 18:13.
Atualizado em 12/06/2022 às 18:13

A micropigmentadora, Jéssica Lima, teve que pagar R$ 4,5 mil para poder recuperar a conta. (Divulgação)

O Brasil está entre os 10 países do mundo que mais são vítimas de fraudes digitais, e dentre eles os mais conhecidos são os golpes nas redes sociais.

Os criminosos têm utilizado abordagens bem elaboradas para fazer vítimas por meio de aplicativos como o Instagram, Facebook e Whatsapp. E uma dessas vítimas foi a micro-empresária amazonense Jéssica Lima, que possui um perfil empresarial no Instagram, onde divulga seu trabalho de micropigmentação.

Em entrevista ao A CRÍTICA, Jéssica relembra como foi a abordagem dos criminosos que se passaram por uma empresa já conhecida do segmento de beleza e estética, oferecendo uma parceria.

“Eu trabalho com micropigmentação e faço parceria com algumas marcas de pigmento. Os hackers criaram um Instagram falso de uma de pigmento que eu utilizo e me mandaram mensagem. Como essa marca de vez em quando manda uns brindes pra quem é cliente fiel, não estranhei. Aí eu pensei como o pigmento é muito caro, não vou perder a oportunidade de ter, né? De ganhar um kit desses. Aí pediram os seguintes dados: meu nome, número de telefone, data de nascimento e endereço, e mandei”, relembra.

Após isso, os criminosos solicitaram uma captura de tela do perfil do instagram de Jessica e com todas essas informações, conseguiram “hackear” seu perfil no instagram.

“Fui pra academia e quando eu retornei não consegui mais entrar no meu Instagram. E foi aí que começou o desespero. Pedi pro meu esposo entrar no Instagram e olhar os meus stories. E quando ele entrou já estava lá uma publicação: 'gente tem um casal de amigos que está viajando e estou ajudando eles a venderem alguns produtos eletrônicos'. Tinha foto de geladeira de R$ 10 mil e muitos outros produtos”, descreveu Lima.

Tentativa de recuperação

A micropigmentadora contou que realizou o registro de Boletim de Ocorrência (B.O.) anexando todas as imagens e arquivos para comprovar que foi vítima de um golpe na internet. Após isso, foi contatada por um investigador da Polícia Civil que deu suporte para a empresária tentar recuperar sua conta.

“Porém, como minha conta no Instagram é empresarial, tem mais fotos de clientes e tinha uma ou duas fotos minhas. Ele não conseguiu recuperar justamente porque não tinha uma foto minha no meu feed. Só tinha mais fotos de clientes, de sobrancelhas, fotos de lábios, e etc”, comentou a empresária.

'Hacker do bem'

Devido à falta de êxito na recuperação da conta, Jéssica precisou recorrer a uma forma alternativa para recuperar sua conta. Para isso, entrou em contato com um profissional especializado em recuperação de contas de redes sociais.

Entretanto, precisou desembolsar o valor de R$ 4.500 para que o profissional conseguisse hackear novamente o perfil da empresária.

Jéssica ressalta que não mediu esforços, pois muitas clientes estavam caindo nos golpes que os criminosos estavam fazendo no seu perfil.

“Eu fiz esse pagamento porque tinha muita cliente caindo no golpe. Tiveram clientes que fizeram transferência de R$ 2 mil por Pix. Aí, vinha muita cliente aqui na clínica fazer escândalo e aquilo me dava um desespero que às vezes eu estava em atendimento e eu ouvia a cliente aqui da sala fazendo um escândalo na recepção. Eu começava a chorar e entrava em desespero. Foi um terror”, ressaltou.

Desespero

Uma professora, que preferiu não se identificar, revelou que, inicialmente, tomou um susto ao perceber que não conseguia acessar sua conta do Instagram.  O susto se transformou em desespero quando o criminoso que se apossou de sua rede social começou a postar imagens de vendas de produtos como se ela tivesse ajudando uma suposta amiga a vender os produtos.

E o pior de tudo: alguns colegas caíram no golpe. “Se eu for somar o prejuízo, foram mais de R$ 5 mil. As pessoas começaram a me ligar, dizendo que tinham feito a transferência, mas não havia recebido o produto.

Depois de muito chorar, a professora registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos, onde o caso, dentre tantos, está em andamento.

Investigação integrada

O titular da especializada acrescentou que há os trabalhos de investigação de crimes cibernéticos e precisou desenvolver um trabalho integrado com delegacias de outros estados e que, hoje, já é possível obter uma apuração mais densa com essa parceria.

“Antigamente, a competência para processar e julgar esses crimes era onde tinha obtenção de vantagem. Por exemplo, a vítima estava no estado do Amazonas, mas pagou indivíduo lá em São Paulo, indivíduo, ou seja, obteve a vantagem lá, ele tinha que fazer o procedimento aqui e encaminhar pra lá. Agora, houve uma reformulação, a competência é pro endereço da vítima, ou seja, aonde a vítima reside vai ser processado e julgado e apurado”, descreveu.

Além das delegacias, Denis Pinho, comentou que é feito uma investigação integrada junto às instituições bancárias, que é o meio utilizado pelos criminosos em obter o dinheiro da vítima.

“A gente acaba dando celeridade, vamos dizer assim, né? As investigações pra gente tentar identificar suspeitos aí e responsabilizar eles pelos crimes cometidos", acrescentou Pinho.

Dicas de segurança

Segundo o especialista em segurança na internet, Camilo Gutiérrez, para evitar que o usuário caia em golpes nas redes sociais como o de Jéssica, uma das principais ferramentas é a verificação em duas etapas e nunca fornecer esse código para os suspeitos.

“Caso alguém solicite quaisquer números recebidos em seu aparelho, não os forneça. Nenhuma empresa séria contata seus clientes/usuários desta forma, tampouco precisa de códigos de verificação. Quaisquer solicitações de códigos de validação feitas por telefone, SMS ou mensagens instantâneas são golpes”, alertou o especialista.

Além disso, Camilo orienta que em casos como o de Jéssica, os clientes deveriam ter entrado em contato direto com a empresária para verificar se ela realmente estava realizando a venda dos itens.

“Se um amigo próximo, parente ou empresa entrar em contato com você lhe pedindo que realize um pagamento, transferência ou que faça algum tipo de procedimento, desconfie. Caso seja um amigo, entre em contato com ele, se possível por telefone ou chamada de vídeo, para se certificar de que se trata de seu amigo ou familiar lhe pedindo ajuda”, orientou.

Criminosos são de fora do Amazonas

Ao longo do ano de 2021, a Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC), que é uma das principais unidades da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), teve um saldo positivo no combate a crimes que ocorrem no ambiente virtual.

A especializada instaurou 197 Inquéritos Policiais (IPs), de janeiro a novembro de 2021, e elucidou 191 casos de sua competência. Os dados são da Divisão de Recebimento, Análise e Distribuição de Inquéritos (Drad), da instituição. 

Questionado por A CRÍTICA sobre como os criminosos atuam no Amazonas, o titular da DERCC, delegado Denis Pinho, esclareceu que grande parte está fora do Estado.

“Estou tendo uma grande demanda de registro de crimes cibernéticos porque hoje os criminosos estão migrando da modalidade presencial e aproveitando a facilidade da internet, do WhatsApp, das redes sociais. Eles interagem de outros estados e conseguem de alguma forma alguns dados e conseguem convencer essas vítimas a repassar valores. E até outros dados que serão utilizados nos golpes. O nosso grande problema hoje é que qualquer criminoso pode, por exemplo, cadastrar um telefone de qualquer estado de onde ele está. Então o criminoso lá de Brasília pode habilitar um número de telefone aqui do Amazonas que acaba facilitando esses golpes também", ilustrou o delegado.

Conforme o delegado, a maioria dos crimes cometidos no Amazonas é feitos por criminosos lotados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas, também há muitos registros em Brasília, Goiás e Mato Grosso.

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