Os barcos ilegais e com estrutura inadequada que navegam na região fazem parte de uma história com várias tragédias
Os barcos ilegais e com estrutura inadequada que navegam na região fazem parte de uma história com várias tragédias (Foto: Reprodução)
As mortes de 20 pessoas na Ilha de Marajó, no Estado Pará, são parte de um velho enredo sobre o descaso e a omissão governamental na Amazônia. Os barcos ilegais e com estrutura inadequada que navegam na região fazem parte de uma história com várias tragédias, de um lado, e de serem alternativas arriscadas para o ir o vir em centenas de localidades amazônicas.
A legislação não alcança essa parte do território nacional e o Estado brasileiro não se faz presente. Funciona a combinação ideal para os atos que ameaçam a vida e são tornados comportamentos normais. O caso do barco que naufragou e provocou a morte desses passageiros é a concretização da ameaça que, na região, funciona como outro dado das condições de vida na Amazônia.
Com essa tragédia, por alguns dias, serão anunciadas medidas que supostamente irão garantir a usuários desse meio de transporte comum na região a segurança possível. Logo depois, a questão sairá de cena ficando o sofrimento dos familiares daqueles que morreram no naufrágio e as sequelas deixadas por esse acontecimento. No centro dessa temática está um dos assuntos relevantes aos amazônicos e demais habitantes e visitantes da região, os meios de transporte, a operacionalização, a prevenção de acidentes e a fiscalização.
Que tipo de aparato funciona, de fato, nas cidades urbanas e mais profundas da Amazônia quando se fala de transporte? Quantas pessoas compõem a estrutura de vigilância e que equipamentos tecnológicos estão disponíveis e são aprimorados em tempo adequado para oferecer maior margem de segurança aos usuários? Esses questionamentos não são novos e vêm sendo repetidos nos pós-acidentes, por um período curto, sem que respostas transparentes sejam dadas e revelam outra conduta no cuidado necessário no setor de transporte na região.
É como se as vidas dessas pessoas e tantas outras que foram perdidas em situações parecidas não tivessem valor. O silêncio das autoridades quanto à urgência de fazer funcionar uma rede mais eficaz de controle dos meios de transportes corrobora para a permanência do descaso e a manutenção de um modelo operacional ainda marcado pela informalidade e desrespeito às normas de segurança. Permanece em vigência um pacto que periodicamente expõe a face de suas consequências.