Os desafios na criação dos filhos são muitos, mas será que existe “estratégia” eficaz para criar filhos emocionalmente saudáveis? No ano passado tive o privilégio de assistir uma palestra com a psicóloga Julie Almeida que é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, esposa do André (Pai), meu parceiro de ministério e mãe do suuuper educado André (filho). A experiência foi marcante, eu observei que as minhas atitudes e as do meu marido refletiam diretamente no comportamento das minhas duas filhas. Eu cobrava de um jeito, mas me comportava de outro e é claro, as “esponjas” copiam o meu comportamento. Parece óbvio, mas foi um “alerta vermelho”. Eu fiquei tão empolgada com as “novas descobertas” rsss, que pedi para a dra. Julie compartilhar suas experiências em uma entrevista para o Blog Mães Cricri.
MC: Qual a influência do comportamento dos pais na criação dos filhos?
Psicóloga Julie Almeida: Nada tem mais impacto na educação de uma criança do que o comportamento dos pais. Muito mais importante do que o que os pais dizem que se deve fazer, é o que os pais mostram que se deve fazer. As palavras são importantes, mas as ações são mais. Devemos mostrar que, enquanto pais, aquilo que exigimos é aquilo em que acreditamos e que, por isso mesmo, vivemos dessa forma.
MC: Existe idade limite para formar o caráter da criança?. Para fazer com que a ela absorva ensinamentos éticos?
A Personalidade é o conjunto de características psicológicas, de certa forma estáveis, que determinam a maneira como o indivíduo interage com o seu ambiente. A formação da personalidade tem início a partir do nascimento. Assim, os primeiros anos de vida de uma pessoa são decisivos para a gênese de sua futura personalidade. Neste período são delineadas as principais características psíquicas, a partir da relação da criança com os pais, pessoas próximas, objetos e meio ambiente. Por isso, estas relações devem suprir todas as necessidades físicas e psicológicas da criança. A não satisfação das mesmas pode causar sérios prejuízos à formação da personalidade. Outrossim, é preciso acalentar o desenvolvimento de uma ampla gama de virtudes desde os primeiros anos de vida, em especial a temperança, que propicia a conquista de um sentido de equilíbrio, evitando-se a exacerbação de necessidades, por um lado, e, por outro, a insatisfação de outras consideradas fundamentais.
Neste contexto, além das necessidades de manutenção da vida, todos os indivíduos possuem necessidades de aprovação, independência, aprimoramento pessoal, segurança e auto-realização, onde serão desenvolvidos os valores existenciais, estéticos, intelectuais e morais.
MC: Como lidar com o mal comportamento?
Não tem jeito, toda criança se comporta mal alguma vez, mesmo as que recebem muito amor e uma ótima educação. Pais sempre passam pelo constrangimento em público de ter um filho gritando, chorando, implorando por algo, etc.
Quando a criança der aquele show de choro exagerado: Procure agir sempre com inteligência. O melhor é deixá-la chorar e terminar seu show. Não dê atenção, é esse o objetivo dela com o exagero, então, ignore. Claro que seus filhos são seus maiores amores, mas é justamente em nome disso e da sua obrigação como pai-mãe enquanto educador que limites precisam ser impostos.
Quando a criança faz birra: Normalmente, a medida do bom senso decide a situação. No caso da birra, é aconselhado que os pais não retruquem a criança. Use a calma! Se o mal comportamento se passa em público, conduza o pequeno a um local reservado. Quando vocês chegarem em casa, converse com a criança com firmeza sobre o ocorrido. Para os problemas na hora de dormir, o melhor é estabelecer horário. E quando o pequeno insistir em ficar acordado e for para a sua cama, leve-o de volta à própria cama sem comentários. Ele se acostumará.
Quando a criança não quiser comer: Quanto ao comportamento na hora das refeições, não seja severo. Aprenda a lidar com a famosa história da “falta de apetite” ou com o biquinho quando ela não goste dos alimentos servidos. A estratégia ideal é diminuir pouco a pouco a quantidade de comida no prato da criança e determinar um tempo específico para ela fazer a refeição. Quando acabar o tempo, retire o prato, simplesmente. Funciona de verdade!
Quando a criança acha que vai conseguir as coisas no grito: Não admita que a criança grite com você nem perca a paciência e faça o que ela quer. Mas controle-se. Gritar mais alto do que ela não resolve o problema. Deixe-a isolada gritando. Se ela fizer em público, leve-a até um lugar reservado. Quando ela parar de gritar, diga que ela terá um punição. Deixe-a por alguns dias sem algum brinquedo que ela goste muito.
MC: Como e quando dizer não para os pequenos?
É muito difícil dizer não a um filho que pede algo com uma carinha meiga e que ao mesmo tempo os pais tenham a condição ou recursos para dar ou permitir. Mas este ato de negar algo poderá fazer grande diferença na formação do adulto no futuro. Este processo de disciplina exige muita paciência e persistência.
Dizer não à criança é fundamental ao seu desenvolvimento, pois irá prepará-la para o futuro e para a realidade. Muitas vezes na vida adulta ela irá ouvir não e saberá lidar com as situações. Dizer não é saber disciplinar a criança e impor limites. Não existe idade ideal para começar a disciplinar a criança. Disciplinar não é castigar, e sim ensinar. E os pais que amam seus filhos, educam, disciplinando, dizendo não.
O não deve ser falado no momento certo, não deve ser agressivo ou quase sem poder. Deve haver um meio-termo. Uma criança que aceita um não, terá muitas vantagens na vida adulta, sendo uma pessoa ponderada, equilibrada emocionalmente, aceitando diferenças, tolerante face à frustração, cooperante, amiga e generosa.
Em cada fase do desenvolvimento do pequeno, é exigido um conhecimento do que a criança pode ou não fazer. O “não” não há uma idade, dizemos não de forma não verbal ao bebê que chega da maternidade, ensinando-o o limite quando o colocamos no seu quarto quando a vontade e disposição é tê-lo ao lado na cama. Quando não acostumamos ele no colo e ai por diante vamos colocando o não no repertório com a criança quando não a permitimos fazer o que quer sem que seja apenas pela segurança, mas mesmo pela regra e limite determinado por você.
É realmente difícil dizer não. Educar e disciplinar não são tarefas fáceis para os pais. Requer determinação, firmeza, limites, muito amor e muito carinho. Por isso esta tarefa é para quem ama o seu pequeno e quer o melhor para ele.
MC: Amor e “palmadas” podem andar juntos na criação dos filhos?
Sim. Devemos entender que disciplinar um filho é mais do que corrigir um mau comportamento dele, substituindo o errado pelo certo. É importante que haja a reflexão sobre seus atos e ao arrependimento sincero.
O amor dos pais pelos filhos é a chave da educação, pois existem gestos, olhares e atitudes que os pais podem usar para demonstrar ao filho que não estão gostando do que ele está fazendo e impor-lhe limites. Porém em alguns momentos extremos, precisarão usar a amorosa correção física, punindo o mau comportamento do filho, pois, se não o fizerem, a “vida” o fará.
A disciplina, é claro, deve ser apropriada a cada fase em que o filho se encontra. Mas, qualquer que seja a idade dele, não convém gritar, fazer gestos obscenos ou bater boca com ele, para que não se torne uma pessoa nervosa, violenta e/ou briguenta. Aos pais cabe educar e zelar pelo bem-estar físico, emocional dos filhos.
MC: Quando é a hora dos pais e crianças procurarem um especialista?
Diferentemente de um adulto, que é capaz de expressar frustrações, medo, insegurança e tristeza verbalmente, a criança pode demonstrar que precisa de ajuda apresentando alterações em seu comportamento e até sintomas físicos a criança dá indícios de que precisa de ajuda de um profissional.
1) Tristeza ,muito choro ou mudança de comportamento
Crianças, geralmente, são cheias de vivacidade. Quando elas passam a chorar muito, a ficar quietas, a parecer meio tristes, é preciso conversar para saber o que não vai bem.
2) Distúrbios físicos
Problemas na alimentação, no controle intestinal e no sono são comuns em crianças pequenas, de até cinco ou seis anos, que estão passando por problemas. Voltar a fazer xixi na cama todo dia, depois de ter aprendido a controlar há um bom tempo, também é um sinal. Em crianças mais velhas, esses distúrbios podem ocorrer e serem acompanhados de irritabilidade, agitação, ansiedade.
3) Ficar doente com muita frequência
Ficar doente frequentemente também é um sintoma corporal que precisa ser avaliado com mais cuidado pelos pais.
4) Compulsão na comida
Passar a comer compulsivamente é outro indício de que a criança pode dar de que algo não vai bem emocionalmente.
5) Dificuldade de interagir socialmente
Uma das causas mais comuns que levam os pais a recorrer a um psicólogo infantil é a falta de interação social que a criança pode apresentar. Ainda que muitas vezes em forma de timidez, o agravamento do quadro – em forma de problemas de comunicação verbal, interação social e criatividade – deve ser analisado. Além disso, outras características, como, por exemplo, a preferência por comidas pastosas e problemas com a textura e o cheiro dos alimentos, também devem ser levados em consideração e relatados ao médico.
6) Intolerância e agressividade
Crianças que tendem a fazer birra por tudo o que querem e que não lidam bem com o não, não necessariamente possuem algum distúrbio psicológico. No entanto, o psicólogo infantil pode auxiliar a detectar onde está o erro. Mas é bom se preparar: muitas vezes, a conclusão profissional é de que a falha está nos pais e na cultura de compensação. Os filhos tendem a ser reflexo de sua criação. Por isso, esteja preparado para receber orientações relacionadas ao seu comportamento que irão mudar o comportamento da criança.
7) Agitação e falta de concentração
A agitação frequente da criança deve ser investigada por um psicólogo infantil. Isso porque é frequente que muitos educadores apontem imediatamente para TDAH, sugerindo interferência medicamentosa nem sempre necessária.
8) Dificuldade de aprendizagem
É normal que nem todas as crianças aprendam na mesma velocidade e da mesma forma. Algumas aprendem a ler na escola, enquanto outras desenvolvem esta capacidade desde muito pequenas. Mas isto não significa que você não deva ficar atenta à aprendizagem de seu filho. Se ele tem muita dificuldade para desenvolver alguma atividade lógica ou demora muito para assimilar algum conteúdo, pode ser hora de procurar ajuda.
Eu ameiiiiiii a conversa com a dra. Julie e se você quer saber mais sobre as terapias para as crianças fique atento as nossas publicações porque a dra. Julie voltará. Um grande beijo e não esqueça de compartilhar sua experiência deixando o seu comentário.
Curriculo Julie Almeida:
Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Coordenadora do InTCC/RS, em Manaus dos Cursos de Especialização em T C C na Infância e Adolescência, Terapia Familiar e de Casais – Modelo Integrativo: TCC e Sistêmica. Membro da Federação Brasileira deTerapias Cognitivas (FBTC) e da Associação Brasileira de Psicoterapias Cognitivas (ABPC). Licenciada exclusiva em Manaus do Instituto T.R.I.