Experiências

Talvez ali esteja a resposta sobre o que será possível fazer daqui pra frente, em termos de eventos populares, até o controle total da pandemia

Orlando Câmara
17/07/2021 às 11:30.
Atualizado em 24/03/2022 às 21:49

(Apresentação Live / Foto: Bruno Zanardo)

Parintins encerrou na última sexta-feira os festejos de Nossa Senhora do Carmo, segundo maior acontecimento da cidade. Com todo potencial para também se transformar num evento de turismo religioso nacional, pelas peculiaridades que a cidade agrega aos ritos sagrados e profanos, este ano ele foi cercado de restrições, por conta da pandemia. Tentei saber quais foram os protocolos sanitários adotados, mas não consegui muitos detalhes. No final de tudo, é o tipo de ocasião em que a fé nos empodera em níveis que fogem ao racional.

Mas a festa da Santa, como eles chamam, não foi a única oportunidade que inspirou atenção nas últimas semanas. Neste domingo completamos  vinte e dois dias da realização da live em celebração ao Festival Folclórico, que há dois anos desfalca nosso imaginário cultural e afetivo. As agremiações folclóricas sofreram muitas perdas em razão da pandemia - calcula-se pelo menos 100 mortes de membros de Caprichoso e Garantido pela covid-19. E algumas lives anteriores se revelaram verdadeiramente desastrosas, em termos de disseminação do vírus e de óbitos.

Entretanto, uma parceria que envolveu os bumbás, a Secretaria Estadual de Cultura, a FVS e o Executivo Municipal concedeu à ocasião um requinte de procedimentos e cuidados que pode elevá-lo a uma experiência efetiva de grande evento na pandemia.

Fechado a qualquer público nas arquibancadas, o Bumbódromo recebeu 1 mil 200 trabalhadores , entre artistas e equipes de serviço, todos devidamente testados antes de entrarem no espaço - com apenas um resultado positivo, imediatamente isolado. No decorrer das apresentações, uma certa rigidez no cumprimento das medidas sanitárias, que em nada eclipsou o brilho da noite.

Enquanto Parintins acontecia no Bumbódromo para o mundo ver virtualmente e com as galeras vazias, a cidade estava cheia de turistas, a maioria de Manaus. Gente apaixonada que precisava sentir o hálito da festa para não ter uma crise de abstinência. Estar lá era um remédio, um lenitivo. E os meios de hospedagem estavam cheios, no mesmo dia em que a cidade passava por um mutirão de vacinação para os moradores, com mais de 5 mil doses aplicadas. Na hora da live (uma palavra que já está enjoando) todos os bares fechados e as pessoas recolhidas nas casas, com as televisões ligadas em alto e bom som, para acompanhar o milagre da vida persistir, apesar de tudo. Parecia que estavam transmitindo a chegada do homem a Marte, ou algo similarmente grandioso, tal era a audiência.

Passadas três semanas, pelo que pude apurar, nenhum tipo de aumento da curva de casos ou de mortes em Parintins foi registrado, de certa forma atestando que a metodologia empregada pelos diferentes parceiros foi acertada. Verdadeiramente foi Parintins para o mundo ver.

Só lamento que uma experiência tão exitosa não tenha sido melhor divulgada, com detalhamento de procedimentos, tamanho de equipes e acompanhamento estatístico pós-evento. Talvez ali esteja a resposta sobre o que será possível fazer daqui pra frente, em termos de eventos populares, até o controle total da pandemia, que enfrenta uma nova ameaça: a disseminação da variante Delta.

Talvez possamos assegurar réveillon e algum carnaval já agora, a partir do que concluirmos sobre as preparações e as consequências da live de Parintins. Podemos ter um marco histórico positivo em meio a tanta tristeza! Espero! É Parintins, sempre nos encantando! #Pensa

A imagem que ilustra essa crônica foi feita pelo fotógrafo Bruno Zanardo no evento Live Parintins deste ano

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