Meu querido, meu velho, meu amigo.

Otávio Gomes
29/08/2016 às 16:04.
Atualizado em 24/03/2022 às 22:36

“Aprendi que a paciência é arte de acreditar que o pai amado sabe o momento certo para o aprendizado perfeito” - Patrícia Feijó.

Neste mês de agosto, no qual se festeja o dia dedicado aos pais, fui assaltado por recordações envolvendo meu saudoso e querido genitor, principalmente depois de ter lido um artigo publicado pelo insigne mestre  Félix Valois, que com sua pena incomparável destacou como devem ser tratadas as pessoas mais idosas, hoje tão relegadas a um segundo plano por nós, característica esta que deve ser combatida tenazmente por todos os humanos.  Dessa forma gostaria de relembrar alguns aspectos referentes ao meu pai amado.

Ele, Otávio Amazonas Gomes, nasceu na Cidade de Fonte Boa (/Rio Solimões), no ano de 1913, filho de Valentina Amazonas e um pai biológico de origem cearense, que não tivemos oportunidade de conhecer, tendo sido criado e adotado como filho pelo português Alexandre Santos, comerciante na região de Tonantins, no alto solimões, onde viveram a maior parte de suas vidas.

Meu pai e minha mãe Rosa Gomes, viveram juntos por mais de 40 anos, durante este tempo tiveram 13 filhos, mas era inconteste que o tratamento dispensado por ambos indistintamente não favorecia ao filho “A” ou “B”, embora pudesse transparecer alguma preferência afetiva, eu não conseguia visualizar. Minha mãe, até pelo espírito maternal, era mais carinhosa, porém, o amor de meu pai transparecia em seus gestos e comportamento para conosco, mesmo que fosse mais hígido.

Lembro de forma viva de sua preocupação com a educação e disciplina dos filhos e filhas, não aceitando desrespeito ou desobediência para com ele ou minha querida genitora. Por manter um laço de amizade forte com Frei Francisco Arce, pároco católico de Tonantins  e diretor do Colégio local, acompanhava de perto o desempenho escolar de todos nós. Nesse campo, lembro-me de um episódio com a Professora Eronildes, filha de dona Vicência – responsável pela Igreja, inclusive pela feitura das hóstias a serem sagradas. Esta minha Professora de matemática me passava a tarefa para casa de escrever os números de 1 a 50, um dia me dirigi à minha mãe e disse-lhe que já sabia escrever de 1 a 100, minha mãe, então, me orientou a escrever este último intervalo para demonstrar que já sabia escrever além das tarefas que me estavam sendo passadas. Quando apresentei à Profa. “Ero” o caderno com a nova sequência numérica, esta se irritou profundamente e dizendo que minha mãe não era professora para dar esta orientação, retirou a folha do caderno e mandou-me escrever de 1 a 50, conforme sua ordem anterior. Não preciso dizer que isto me magoou bastante, obrigando-me a informar minha mãe que se reportou ao meu querido pai, o qual solicitou ao Padre que não gostaria de ter a referida Professora como orientadora de nenhum filho seu naquele Colégio, no que foi atendido.

Quando viemos para Manaus, no ano de 1976, aliás. o que mais motivou meu pai a isso foi a possibilidade de ofertar um ensino melhor aos filhos, pois na cativante Tonantins o ensino era ministrado somente até à 4ª série, obrigando os pais a mandarem seus filhos para outros centros a fim de propiciar-lhes um ensinamento mais amplo e melhorado, especialmente na Capital do Estado.

Aqui chegando, pude constatar a diferença de nível escolar do interior do Estado para cá. Mas com determinação busquei reequilibrar  tal disparidade, visando atender um sonho de meu pai e de minha mãe também, o qual era ter um filho ingressando na Universidade. Destaque-se que para ele devia ser na Faculdade de Direito, pois além de comerciante meu pai exerceu com muito brilho e denodo a função de Juiz de Paz e Escrivão “Ad hoc” na Cidade natal já citada. Esta alegria eu me orgulho de ter proporcionado a ele, não tendo jamais esquecido a vibração que o mesmo demonstrou quando em 1983, assistimos juntos ao anúncio do resultado do vestibular da Universidade do Amazonas, veiculado os nomes, na época, até pela televisão.

Portanto, recordo com muitas saudades a convivência por poucos vinte anos com meu pai, pois seu falecimento deu-se em 1985, deixando um imenso e impreenchível vazio em todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo mais de perto. Receba meu pai meus profundos agradecimentos por tudo que nos proporcionaste, seu legado de honestidade e seriedade procuro manter e com certeza meus irmãos e irmãs também o fazem. Nossa família, em sua imensa maioria, mantém-se firme aos seus ensinamentos e exemplos, temperado pela incomensurável humildade de D. Rosa, nossa matriarca. Apesar do pouco convívio tido com você meu pai, pois sou o caçula dos treze, levo guardado no mais recôndito do meu ser a sua eterna lembrança de me orientar e mostrar o verdadeiro caminho a seguir.

Saudades eternas.           

Otávio Gomes.

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