A cada hora, um caso de violência contra pessoa com deficiência é registrado no Brasil, diz Atlas; maioria ocorre em casa e com mulheres
(Foto: Divulgação)
As taxas de notificações de violências contra mulheres são mais de duas vezes superiores às de homens. O tipo de violência mais notificado contra pessoas com deficiência é a física, presente em 53% dos casos, seguida de violência psicológica (31%) e negligência/abandono (29%).
Mais de 7,6 mil casos de violência contra pessoas com deficiência foram registrados no Brasil em 2019, o que equivale a quase um por hora, de acordo com dados inéditos divulgados pelo Atlas da Violência nesta terça-feira (31). A maioria dos casos (58,5%) ocorreu em casa, e as mulheres com qualquer tipo de deficiência são as principais vítimas, com destaque para as com deficiência intelectual, 56,9% das vítimas
Tipos de violência e gênero
O tipo de violência mais notificado contra deficientes é a física, presente em 53% dos casos, seguida de violência psicológica (31%) e negligência/abandono (29%). A violência física tem mais registros para todos as pessoas com deficiência, exceto para aquelas com deficiências múltiplas, em que prevalece a negligência (50% dos casos).
A violência sexual se destaca entre as pessoas com deficiência intelectual (35%). Em termos de gênero, as proporções de violência psicológica e violência sexual são mais altas para mulheres (35% e 28%, respectivamente) do que para homens (25% e 10%), em compensação, as proporções de negligência são maiores para homens (38% contra 24%), mas, mesmo neste caso, as notificações de mulheres superam as dos homens (1.171 contra 1040).
De forma geral, as taxas de notificações de violências contra mulheres são mais de duas vezes superiores às de homens, exceto quando a vítima é pessoa com deficiência visual, quando a superioridade é inferior a 25%.
Perfil das vítimas
As taxas de violência contra deficientes intelectuais são maiores do que nos outros casos, chegando a 36,2 notificações para cada 10 mil pessoas com essa deficiência, sobretudo mulheres, quando comparadas à população com outros tipos de deficiência. Segundo o Atlas, a sobretaxa está associada às notificações de casos de violência sexual.
Para as demais pessoas com deficiência, os valores são bem inferiores: foram 11,4 notificações de violências para cada 10 mil pessoas com deficiência física em 2019, caindo para 3,6 para pessoas com deficiência auditiva e 1,4 no caso de pessoas com deficiência visual.
Nós, mulheres PcD, assumimos o protagonismo.
Uma foi puxando a outra e, em pouco tempo, mais de 120 mulheres com deficiência, mães de pessoas com deficiência e especialistas que trabalham na área, fizeram parcerias para montar uma programação dedicada ao assunto como nunca houve no país. 16 eventos formam a I Jornada pelo Fim da Violência contra Mulheres com Deficiência
As Procuradorias da Mulher no Senado Federal e na Câmara dos Deputados foram as primeiras a acolher a demanda e realizarão em 9/12 a audiência pública “Todas Juntas – Enfrentando a violência contra a mulher com deficiência”.
“A Atuação do Ministério Público, Delegacias de Polícia e Defensoria Pública no Combate à Violência contra Mulheres com Deficiência”, 30/11, é um dos eventos mais esperados, uma vez que estes são os órgãos diretamente responsáveis pela proteção das mulheres com deficiência.
A Frente está lançando a campanha “Violência contra Mulher com Deficiência, põe no B.O.!” uma vez que não existe espaço no formulário de ocorrência policial para registrar a condição de violência. Com isso, não há números confiáveis para criação de políticas públicas que incluam o segmento. A violência contra a mulher com deficiência vai muito além da violência doméstica. Jovens autistas são amarradas para ser contidas, mulheres com deficiência são esterilizadas sem saber, meninas surdas são proibidas de usar as mãos para serem obrigadas a falar e não fazer sinais, por exemplo. A violência acontece de muitas formas e em camadas.
Uma iniciativa com muito potencial, mas que precisa da sua colaboração para alcançar o maior número de pessoas possível.
Afinal, Inclusão Dever de Todos!
Nancy Segadilha
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