Bicentenário da independência do País foi apropriado para fins 'particulares'
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores durante as comemorações do 200º aniversário da independência do Brasil (Foto: AFP)
A independência de um país tem sido marcada por batalhas e mortes. São processos longos e dolorosos sustentados pelas ideias de liberdade e de autonomia na tomada de decisão por parte da sociedade e de seus representantes nos poderes instituídos e na perspectiva daquilo que seria melhor para o povo.
No Brasil, as atividades comemorativas aos 200 anos de independência do País misturam cenas no mínimo pitorescas, algumas grotescas, que já deveriam ter sido superadas para dar lugar a outras condutas apoiadas pela busca da dignidade de cada cidadão e cidadão brasileiros. Atravessada por crise ética e política, a sociedade viu-se representada, nesses momentos, pela apropriação vergonhosa da data do 7 de setembro para fins particulares muito distantes de serem cívicos e da razão para comemorar os dois séculos de país independente.
Quando um presidente, como o fez o do Brasil, convoca apoiadores para, junto com ele, gritarem “imbrochável” está dado o tamanho da importância que esse mandatário oferece ao acontecimento histórico da nação. A independência – esse caminho a ser aprimorado continuamente – não tem valor ao mandatário que, ao contrário, manifesta desprezo e incentiva apoiadores a seguir no estreito entendimento do que a data representa, e a reproduzir equívocos e asneiras.
Nesse bicentenário da independência, iniciativas importantes, tomadas a partir de segmentos, notadamente da área da cultura e das artes, puderam ser vistas em nível nacional, como espetáculos teatrais que recriam a noção de independência a partir de outras interpretações incluindo as vozes indígenas, pretas e de mulheres, silenciadas no passado. A cultura e a educação podem e devem ser a portar aberta e larga por meio da qual a efeméride da independência ganha novas compreensões e se revelam.
Estimular que em todo o Brasil as leituras e releituras do movimento pela independência nacional seja melhor conhecido e como se deu nas diferentes cidades permanece como tarefa necessária que deveria ter no governo central um dos elementos de sustentação. Não foi o que se viu no 7 de setembro. Igualmente, a festa da independência não se limita as representações militares, é também civil. É essa porção cívico-militar, o pluralismo étnico brasileiro e a maior visibilidade das mulheres que reivindicam lugar de respeito nos atos e relatos dessa parte da história brasileira.