Isso me faz lembrar muito um ex-colega de trabalho que tinha o terrível costume de roer unhas em público. Inúmeras vezes, durante as reuniões. Por mais que suas competências, conhecimentos e relacionamentos o tenham levado a galgar elevados cargos, era, ao mesmo tempo, inegável que a insegurança demonstrada por este hábito infantil, o fazia parecer menor. E ele era.
Nos últimos, e nos próximos, meses, tenho estado envolvido em um projeto que envolve a participação de pessoas de diferentes formações e faixas etárias. Curioso notar o como estas oportunidades de convívio se tornam únicas e, igualmente valiosas, para que possamos seguir, ainda com mais convicções, nos caminhos profissionais e pessoais que escolhemos.
Certo momento, não pude me furtar a ouvir uma conversa entre duas estagiárias. Uma delas se dizia “mega” preocupada por conta do final de seu período de estágio. Ela já procurara em sites de emprego e perfis de redes sociais várias oportunidades e participado de apenas um processo seletivo, do qual não tinha sido aprovada. Parecia já estar conformada que a única saída seria trabalhar como garçonete de uma famosa rede de fast food. Afinal, ela realmente precisava “daquela grana”. Diferentemente de sua colega, a outra estagiária, embora estivesse em situação similar, afirmara que sequer tinha iniciado a busca por uma nova posição profissional. Ainda assim, investia em falar palavras de apoio à amiga: “Tudo vai dar certo, você vai ver”.
É inegável afirmar o quanto a iminência de ficar sem esta fonte de renda possa estar afetando de forma distinta cada uma delas. Talvez a estagiária que não mostrou qualquer preocupação aparente tenha condições financeiras que a permita estar bem mais tranquila. O que pode não ser o caso da outra. Confesso que não tenho a menor ideia. O que posso afirmar, no entanto, é que embora estejam prestes a enfrentar situações similares, com desdobramentos distintos, uma delas parecia muito mais feliz, e isto faz diferença. A preocupação, legítima, presente e explicitada contra o suposto “nem me liguei ainda nisso” (creio que esta expressão seja do meu tempo rs rs) deixava muito claro quem, potencialmente, está muito mais próxima de conquistar algo ainda maior.
A forma como enfrentamos nossos obstáculos, diz muito se conseguiremos, ou não, ultrapassá-los. Longe de seguir qualquer linha de autoajuda, o que poderia ser o caso, ao assimilarmos nossas preocupações, de forma tão evidente e/ou explicita, tendemos a nos enfraquecer. Talvez por carência ou para que, justamente, possamos nos mostrar abertos a receber gentis palavras de outrem, este tipo de postura pouco irá contribuir para que superemos os nossos problemas. Os amantes da “nobre arte”, o boxe, sabem muito bem sobre o que estou falando.
Sejam quais forem as suas chances em uma luta, ambos os boxeadores demonstram uma confiança na vitória que faz muitos de nós acreditar que os dois irão vencer. Demonstrar, muito mais do que possuir as melhores aptidões para o embate é condição necessária a qualquer lutador. Eles são orientados para isso. Postura similar a que deve ser tomada por qualquer profissional. Ou será que alguém já ouviu um boxeador, antes da luta, falar que muito possivelmente irá perder e que por conta disso terá que mudar de esporte? Não quero insinuar, no entanto, que isto seja o suficiente, uma vez que, a princípio, o mais bem preparado, costuma levar a melhor. Mas também é verdade que há inúmeros outros fatores que sequer passam próximos das competências e aptidões demonstradas.
Isso me faz lembrar muito um ex-colega de trabalho que tinha o terrível costume de roer unhas em público. Inúmeras vezes, durante as reuniões. Por mais que suas competências, conhecimentos e relacionamentos o tenham levado a galgar elevados cargos, era, ao mesmo tempo, inegável que a insegurança demonstrada por este hábito infantil, o fazia parecer menor. E ele era.
Isto é Justo? Não sei.
Mas quem falou que estamos falando de justiça?