Opinião

Fagan

Desempregado, pai de quatro filhos, abandonado pela mulher, ele queria ser ouvido. Mandaram-no procurar a Rainha e ele foi

Orlando Câmara
11/09/2022 às 15:05.
Atualizado em 11/09/2022 às 15:05

(Foto: R. Brigden/Getty Images)

A semana passou rápida, recheada de feriados cívicos imprensados e de recorrentes falas do “mais-do-mesmo”.  Semana que começou com a data da elevação do Amazonas à categoria de província e termina no 11 de setembro, lembrando os atentados terroristas de 2001 nos Estados Unidos e que resultaram em 2 mil 996 mortos. Muitos assuntos em tão pouco tempo para se pensar...

Eu, que sempre sigo a lição de Tolstoi, “fale de sua aldeia e estará falando do mundo”, ou “se queres ser universal, cante sua aldeia”, acabei elegendo um assunto internacional, com uma superexposição midiática, como o mais importante da semana: a morte da Rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Afinal, não é todo dia que se perde uma monarca com 96 anos, ocupando o trono há 70, e amada por seus súditos.

Muita coisa se falou sobre ela, em avaliações as mais diversas, mas eu sempre gosto de dizer que ela não foi uma rainha de baralho: óbvia em sua leitura na mão de qualquer cartomante. Ela estampou as capas de Vogue sem precisar ser sexy, provocante ou trajar as grifes e designers mais “in vogue”. Suas joias também não eram as mais cobiçadas pelas mulheres.

Ela era daquele jeitão dela, muito peculiar, e corporificava o poder, o correto trato do poder. Ela fez a transição da Inglaterra de 1952 para os tempos atuais e foi testemunha e protagonista da história. Sempre buscando o caminho do meio e a vontade do povo. 

E a relação custo-benefício da coroa britânica aos cidadãos ingleses é melhor que a do chefe do executivo tupiniquim aos seus súditos – a coroa custou aos cofres do Reino Unido, em um ano, R$ 348 milhões, enquanto o presidente brasileiro resultou em um ônus da ordem de R$ 563,7 milhões (dados de 2017). Será que alguém já pensou em atualizar esse cálculo? Vale lembrar que o Reino Unido é a sexta maior economia do mundo e o Brasil a décima.

Há muita coisa para se dizer, mas das histórias envolvendo Elizabeth II uma me toca particularmente: quando o pintor desempregado Michael Fagan, numa incrível falha de segurança, invadiu o Palácio de Buckingham no dia 9 de julho de 1982, e a Rainha acordou com ele nos aposentos. Desempregado, pai de quatro filhos, abandonado pela mulher, ele queria ser ouvido. Mandaram-no procurar a Rainha e ele foi. E ela, embora assustada, o ouviu. 

Ele, Fagan, não foi preso: foi retirado dali e detido por algumas horas. Depois liberado por uma corte judiciária e sentenciado a um tratamento psiquiátrico em liberdade. A soberana britânica continuou sendo Rainha, sem reparos. 

No Brasil, onde não há monarquia constitucional, mas uma república democrática, Fagan teria sido morto ou, no mínimo, trancafiado em um presídio de segurança máxima, como uma ameaça à soberania nacional e usado politicamente. Alguém duvida? Vida longa à memória da Rainha que ouvia seu povo. #Pensa

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