A judicialização da política, um fenômeno, que ganhou corpo a partir dos anos 2000, traz um efeito colateral terrível para as sociedades que se vêem envolvidas pelas querelas levadas aos tribunais, que é a instabilidade, amiga e irmã como vemos atualmente, da crise econômica.
Os exemplos do mal que a instabilidade política injeta na sociedade vem de vários municípios do interior, sendo o caso mais famoso o do Município de Novo Airão, na calha do rio Negro.
De pequeno porte, Novo Airão tinha tudo para deslanchar a economia dele com a construção e pavimentação da rodovia AM-352, bem como a de um novo porto fluvial e as políticas de incentivos fiscais ao setor de turismo, que tem ali um grande potencial.
Acontece que no mesmo momento em que essas iniciativas propiciariam a criação de políticas públicas municipais que turbinassem a economia local gerando emprego e renda a população, eis que veio a briga entre dois grupos políticos, que pela via judicial se revezaram mais de sete vezes no poder durante o curto período de um mandato de quatro anos.
O vencedor da eleição assumiu o posto e nem ficou dois meses quando a primeira liminar retirou-lhe o poder e entregou ao segundo colocado. Caminhou-se mais um pouco e nova liminar garantiu a troca e assim o tempo foi passando, com a disputa se prolongando nos tribunais, eleitoral e comum, até que em determinado momento os dois não podiam mais assumir o posto, que caiu nas mãos do então presidente da Câmara Municipal, sem que o samba do político doido acabasse. O resultado disso toda a comunidade novoairãoense sabe. Coari, Boca do Acre e outros municípios vivenciaram casos semelhantes, sem a mesma intensidade, mas com o mesmo resultado: declínio econômico.
Pois este é o risco que o Amazonas pode viver a enfrentar em caso do governador José Melo ser apeado do poder e na sequencia buscar guarida de seus direitos no Tribunal Superior Eleitoral. Viveríamos uma descontinuidade administrativa que em muito pioraria o cenário econômico, cujo principal modelo, o Zona Franca de Manaus, encontra-se em retração grave.
Portanto, com este cenário, viveremos aos próximos dias e meses na expectativa de que a Justiça se faça, mas se faça com celeridade para que não tenhamos um agravamento da crise econômica.