Rio Abaixo

Sem visitantes, sem patrocínio, sem celebrações, Parintins vive de lives, que é muito pouco para traduzir as necessidades do povo daquela cidade

Orlando Câmara
29/05/2021 às 11:10.
Atualizado em 24/03/2022 às 21:50

Dia 30 de maio. Em outras épocas, a essa altura eu já estava com tudo certo para embarcar para Parintins no final de junho, se possível um dia antes das passagens de som do Festival. Comecei a frequentar a Ilha em 1995 e, desde então, se faltei uns três anos foi muito. Eu adoro aquilo tudo, que fala ao meu coração e à minha identidade. Não é discurso, nem frescura: é real.

Gosto de muitas coisas lá. Mas é tanto assunto que fica difícil de me atualizar. Sempre recorro aos meus amigos jornalistas nativos e moradores de Parintins, que tem excelentes profissionais de comunicação: Josene, Peta Cid, Carlos Alexandre e muitos outros. Sinto falta de cruzar com eles na Avenida Amazonas, ou em algum escritório do boi. Da próxima vez sentirei falta do mais animado de todos: o  Aderaldo Reis, que partiu de convid ano passado. Da próxima vez, que não deve ser este ano. Não houve anúncio oficial, mas todos na cidade meio que sabem que não há condições de realizar o festival, nem no último final de semana de junho, nem em outro mês! Quem me disse? O Mapinguari, parente. A informação é segura.

A cidade anda triste, chorando seus muitos mortos e o segundo ano consecutivo sem o evento, que é uma das maiores expressões culturais do país. Os parintinenses se ressentem da falta de alegria, de celebração e da riqueza proporcionada pelo Festival Folclórico. Na semana que passou, o Prefeito declarou que a cidade perde R$ 80 milhões por ano com o cancelamento. Cerca de 10 mil vagas de trabalho são perdidas. Há gente passando fome. Os cenógrafos e todo tipo de artista que a Parintins exporta para os carnavais e outras festas de todo o Brasil ficaram desempregados. Não há evento lá, nem em qualquer outra cidade brasileira. Todos os municípios do interior do Amazonas perderam seus eventos, mas nenhum é tão grande e importante quanto o Festival Folclórico de Parintins, seja pelo aspecto econômico, seja por ter se revestido em uma espécie de porta-voz cultural do Amazonas para o mundo.

Sem visitantes, sem patrocínio, sem celebrações, Parintins vive de lives, que é muito pouco para traduzir as necessidades do povo daquela cidade e o vazio devastador que fica na alma de quem sabe o que é chorar assistindo ao vivo uma das apresentações. Eu poderia citar uma centena de episódios únicos que me disseram muito precisamente de onde eu vim e o que provoca a minha emoção!

Talvez fosse a hora, em meio a tantas tragédias, de nós, torcedores, fornecedores, críticos e todos que obtêm vantagens daquele Festival, sejam elas políticas, financeiras ou emocionais, nos unirmos pra devolver àquela terra encantada tudo o que nos foi ofertado tão generosa e brilhantemente ao longo de tantos anos. Como? Não sei. Uma campanha de arrecadação, um programa de adoção de famílias locais, doações sistemáticas mensais... enfim, formas efetivas e factíveis não faltam. Agora é hora. Talvez ontem fosse mais adequado, mas ainda há tempo. Também acredito que é a oportunidade que as agremiações, Caprichoso e Garantido, têm para se unirem e protagonizarem um plano de ajuda a Parintins. Em 2022 teremos festival, se Deus e os habitantes do imaginário da floresta permitirem. Mas não há alegria em terra arrasada. A fome, a miséria também matam, além da doença! Auxiliar urge. Bora? Com a palavra, Caprichoso é Garantido. #Pensa

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