O afrouxamento dos cuidados e o fortalecimento do movimento contra as vacinas por parte de grupos conservadores levou ao ressurgimento da doença em nosso território em 2018
(Foto: Reproduação)
Hoje em dia, quando se fala em sarampo, a maioria das pessoas dá de ombros por não fazer a menor ideia do terror que a doença já causou no mundo. Vale lembrar que o sarampo, desde que surgiu, tem sido um flagelo para a humanidade, sendo um dos principais responsáveis pela drástica redução das populações ameríndias no final do século XIV. Sem defesas contra a doença trazida pelos europeus, os indígenas morriam aos milhares. Estudos indicam que a própria queda do Império Romano pode estar relacionada à redução populacional provocada por epidemias de doenças como o sarampo na Europa.
No início da década de 1990, o surto da doença no País foi tão intenso que obrigou o governo a montar uma estratégia de combate, lançando mão da principal arma disponível: a vacina. O esforço governamental surtiu efeito e a cobertura vacinal chegou a 96% do público-alvo, crianças com idades entre 9 meses e 14 anos. A doença foi, então, controlada. Porém, a história mostra que não se deve baixar a guarda. A queda significativa no número de casos se refletiu no recuo da busca por vacinação, resultando em novos surtos nos anos de 1996 e 1997. Novamente, amplas campanhas de vacinação tomam conta do País, enfraquecendo os sempre presentes discursos antivacina e elevando a busca pela imunização. Mais uma vez, a doença estava controlada.
Porém, o afrouxamento dos cuidados e o fortalecimento do movimento contra as vacinas por parte de grupos conservadores levou ao ressurgimento da doença em nosso território em 2018. De lá para cá, foram registrados mais de 40 mil casos de sarampo no Brasil. Desde 2015, a cobertura vacinal vem caindo para todas as vacinas. Um dado alarmante que deve ser combatido. Infelizmente, esse quadro faz crescer no Brasil o risco de uma epidemia de sarampo, algo absurdo quando se ressalta que exista uma vacina com eficácia comprovada de 97% contra a infecção.
É diante desse cenário que o Ministério da Saúde promoveu ontem, juntamente com as secretarias de saúde nos estados e municípios, o “Dia S” contra o sarampo, com busca ativa de pessoas com suspeita da doença. Além disso, a importância da vacinação está sendo enfatizada. Porém, para reverter o atual quadro de desconfiança sobre as vacinas, o governo terá que fazer muito mais.