Sustentabilidade?

Artigos de Domingo - 27.Março.2016

Orlando Câmara
27/03/2016 às 19:49.
Atualizado em 24/03/2022 às 22:57

A notícia foi publicada há semanas, mas não vi repercussão! O PIB do Amazonas amargou o pior resultado entre todos os estados brasileiros, em 2015. Enquanto a economia nacional retrocedeu em 3,8%, o produto interno bruto estadual teve um desempenho 9,1% a menor que o ano anterior. Traduzindo, fomos duas vezes e meia piores que a média nacional. E não adianta argumentar que somos a sexta economia brasileira. A coisa não anda bem e sequer sabemos se ainda continuamos na mesmo posição no ranking dos PIBs das unidades federativas.

Estamos sempre tão preocupados em bradar nossa grandeza, que não percebemos nossas fraquezas. Maior estado da federação, 18% do território nacional, maior taxa de preservação da cobertura vegetal nativa, maior bacia hidrográfica do mundo... Adoramos dizer que somos “maiores”, mas esquecemos nosso Calcanhar de Aquiles. Vivemos, há anos, do dinheiro proporcionado pela Zona Franca de Manaus, uma matriz econômica cruel e de frágil sustentação. É quase uma monocultura. No dia em que ela ruir, tudo irá por águas abaixo. Simples assim!

E vivemos um momento em que tudo parece estar contra. A ZFM não é sustentável, não utiliza matérias primas, nem vocações nativas. A base são os bens de consumo que, numa crise, fatalmente sofrem forte impacto. E a capacidade geradora de vagas de trabalho no setor da indústria, seja aqui, ou em qualquer outro lugar do planeta, é cada vez menor! A regra é aumentar o desempenho empregando menos mão de obra. Nada disso é de hoje! São verdades antigas que ruminamos há muito tempo. Chegará uma hora em que, ou as engoliremos, ou as vomitaremos.

O distrito já dá sinais claros de alerta. O nível de emprego em 2015 caiu 16,11% em relação a 2014. Fala-se, nos bastidores, do possível encerramento das atividades da Moto Honda da Amazônia, para abrir sua planta em outro estado brasileiro. Eles já estão num programa de demissão voluntária e, mesmo assim, demitem funcionários com mais de 20 anos de empresa. Precisamos abrir os olhos, mesmo que já seja tarde demais.

Nossos gestores sempre foram tão focados na manutenção do advento da Zona Franca que nunca se preocuparam efetivamente em variar a matriz econômica do Estado. Ou no que fazer com ela, ao longo dos anos. E mesmo quando focaram outros setores da economia, o fizeram de maneira, talvez, equivocada: ”Terceiro Ciclo”, “Zona Franca Verde”, “Amazonas Rural”. Nossa conformação socioambiental não aponta para uma vocação agrícola. E ainda assim a insistência foi grande. Não é que não se deva dar suporte ao produtor rural. Mas essa não é a principal atividade para substituir a ZFM. Basta ver os resultados dos programas!

E seguimos em frente, com a sustentabilidade recheando o discurso de todo mundo, mas ficando realmente nas palavras e muito pouco nas ações. Precisamos de grandes investimentos em ciência e tecnologia, talvez a principal saída para encontramos um novo caminho. Enquanto isso não acontecer, parece que tudo é paliativo, recurso para ganhar tempo – um tempo que talvez não tenhamos mais à disposição. A Zona Franca completou há pouco 49 anos. Imagino quantos anos levaremos ainda para encontrar uma alternativa a ela!? O tempo não para...

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