O carpinteiro Júlio César Portilho é o único Caprichoso na casa 3.218 da avenida Lindolfo Monteverde, dentro da ‘casa’ do Garantido. Mesmo assim, a paixão dele pelo azul e branco segue inabalável e nem o amor do neto o fez mudar de cor
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O mundo do boi-bumbá é conhecido pelo vai-vem de artistas como levantadores de toadas, compositores, artistas de galpão e dirigentes que trocam de associação folclórica movidos pela questão financeira ou outras razões. No entanto, existe um importante grupo no qual o que impera é o amor e dele não se abre mão: os torcedores de Garantido e Caprichoso, que estão sempre ao lado do seu boi, seja em que local for, e não trocam de camisa por nada... nem no território do contrário!
Falamos com alguns desses “estranhos no ninho” para saber qual a sensação de estar morando no lado do boi adversário. Um deles é o carpinteiro Júlio César Portilho, 61, que há 29 anos mora na avenida Lindolfo Monteverde, logradouro que homenageia o fundador do Boi Garantido e onde está localizado o Curral Velho, que era moradia do criador do vermelho e branco. Torcedor do Caprichoso, ele antigamente morava na Francesa, reduto do azul e branco.
Para ele, ser do Caprichoso e morar na “área” do Garantido nunca foi problema. “Aqui vivemos em irmandade. É muito bom. As pessoas falam que isso é uma coisa nunca vista. Eu sou apaixonado pelo Caprichoso”, disse o carpinteiro Júlio César.
Quando o Caprichoso é campeão, ele garante que tudo fica em harmonia na casa 3.218 da avenida Lindolfo Monteverde. “Pra mim tanto faz ganhar como perder. É a mesma coisa. Sou amigo de todo mundo”, comentou.
Netinho
Por uma daquelas peças que a vida nos prega, ironicamente o torcedor azul e branco é o único Caprichoso na casa nº 3218, que é dominada pelos ‘Garantidos’: a esposa dele, Maria Valdete, o filho Luís Cláudio e o neto, Luís Cláudio Castro de Jesus, 7 – o xodó da família e pelo qual Júlio César nutre um carinho mais do que especial. Inclusive, durante a entrevista, ele se emocionou a ponto de chorar ao falar sobre o amado netinho.
“É demais, é uma emoção grande falar sobre o Luís (ele pede desculpa, começa a chorar e dá uma pequena pausa na entrevista). Já tentei levar ele uma vez para o Curral Zeca Xibelão mas não teve jeito. Ele disse: ‘não vô, o meu boi é aqui, é o Garantido’”, contou o carpinteiro azul e branco. “O Garantido é uma coisa que afetou meu coração desde pequenininho. Fiquei apegado a ele. E falei pro vovô fazer um boi pra mim. Foi meu primeiro brinquedo de criança que eu comecei a brincar e me acostumei. Quero ser apresentador do boi”, diz o pequeno Luís Cláudio.
Indecisão
Júlio César lamenta a situação atual do Festival. “O evento teve uma queda muito grande, inclusive em termos de patrocínio, não está sendo como esperado, sem falar nas dificuldades relacionadas ao Bumbódromo, como liberação para a apresentação do ensaio (técnico de som) dos bois para chegar no dia e estar preparado. Você não sabe se ele vai liberar ou não, se vai ajudar o boi ou não, ou seja, é uma indecisão que deixa todos com a pulga atrás da orelha”, criticou.