Mesmo estando no “vermelho” e buscando ficar no “azul” em meio à crise financeira, os bois Garantido e Caprichoso estão unidos, em uma só voz, e dizem que evento na Ilha vai acontecer; andar com as próprias patas’’é fundamental, dizem alguns dos entrevistados
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Assim como vara verde, que enverga, mas não quebra, na base da união e firmes em um único propósito, os bois Garantido e Caprichoso garantem: o 51º Festival Folclórico de Parintins será realizado, sim! Mesmo após tantos percalços e dificuldades pela crise financeira instalada, e principalmente pela ausência de recursos do Governo do Estado – que pela primeira vez desde a fundação do Bumbódromo, em 1988 não vai repassar verba para os dois bois -, e pela falta de dinheiro para pagar principalmente seus artistas de galpão, as duas associações folclóricas nem cogitam que não vai ter festival. Pelo contrário: o discurso é que vai ter festival, sim!
Nesta temporada, os bois tiveram perdas de receitas significativas. A principal e mais polêmica veio do Governo do Estado, que anunciou o fim do repasse para as associações – até ano passado o valor a cada boi era de R$ 2.040.000. Operadoras de telefonia e estatais também diminuíram ou encerraram seu investimento na festa, totalizando em torno de R$ 3.500.000 de receitas a menos. Mas o otimismo continua e a festa vai acontecer, dizem dirigentes, torcedores e poder público.
“Os bois de Parintins são que nem vara verde: eles envergam, mas nunca vão quebrar”, compara Chico Cardoso, membro do Conselho de Artes do Caprichoso, e coordenador da parte de coreografia e teatralização do bumbá, ao destacar a realização do evento.
“É claro que vai ter festival, sim, claro. Primeiro que é uma tradição que existe há 100 anos, e há 50 anos que enveredou pela disputa, se construindo de forma sólida um espetáculo como esse, e não existe crise que vá derrubar. Há alguns anos falaram que a crise era de criação, de falta de criatividade e se repetindo muito. Agora a crise chegou de forma rigorosa, econômica, e precisamos buscar alternativas como nós buscamos para a superar a crise da criatividade. O boi se reinventa. Já passei por muitos momentos de crise profunda, grave. A cultura, de uma forma geral, passa por esse processo no Brasil há séculos. Então, não seria agora que o festival estaria ameaçado por conta de crise financeira. Existe toda uma comunidade que depende desse festival e que não vai ficar de braços cruzados esperando que o governo continue patrocinando esse Festival. A crise é boa no sentido de lançar novos olhares para o evento, de buscar um novo momento para ele.
“Venha a Parintins que você vai encontrar um espetáculo maravilhoso”, completa Chico. Com base no orçamento do ano passado, para este Festival o Boi Caprichoso fez uma previsão de despesas em cerca de R$ 5 milhões.
No vermelho
Pelos lado da Cidade Garantido, o presidente da associação folclórica vermelha e branca, Adelson Albuquerque, garante que vai haver a disputa no Bumbódromo esse ano. O boi diz ter feito adequações visando conter custos mesmo antes do anúncio de que o Governo não iria mais liberar os R$ 2.040.000 para cada associação folclórica. No total, o Garantido informa ter deixado de receber cerca de R$ 3.500.000 – o orçamento do boi para o festival deste ano é de R$ 7 milhões.
“Com toda certeza e garantia vai haver festival sim nos dias 24, 25 e 26. Mesmo com todas as dificuldades financeiras. As dificuldades maiores que nós enfrentamos foi o retardo da informação de que não haveria mais recurso do Governo do Estado. As duas associações já haviam se programado para o evento de 2016. Fizemos investimentos e o Garantido está mais de 90% pronto para a disputa do festival. Acredito que o contrário também está bastante acelerado nos seus trabalhos e com isso teremos um evento maravilhoso”.
Torcidas em uma só voz
Como em poucas vezes nos 101 anos de história, torcedores de Garantido e Caprichoso conjugam do mesmo sentimento otimista em relação a organização do evento. É o caso de dona Rosinha Medeiros, apaixonada incondicional pelo Garantido, e de Socorrinha Carvalho, que tem amor e paixão pelo Caprichoso.
Aos 72 anos, Eunice Costa de Medeiros, a dona Rosinha Medeiros, foi bem taxativa ao responder a pergunta “Vai ter Festival de Parintins?”.
“Claro que sim, porque não? Nós somos Garantido perreché e não ficamos tristes com nada. Quando dizem que não vai ter festival nós inventamos qualquer coisa para o nosso boi sair. E vai sair lindíssimos e estamos prontos para a vitória”, contou ela.
Rosinha nasceu no Município de Tefé, mas reside há 48 anos na Ilha Tupinambarana e tem tanta identificação com a cidade que possui até título de Cidadã Parintinense. “Já vi muitas e lindas vitórias do Garantido, e muita agonia também. Antigamente não era como agora. Dinheiro era mais difícil, mas vinha a família Faria e ajudava a pagar os artistas. Isso eu vi”, destaca ela.
Pelo Caprichoso, Socorrinha Carvalho, 48, a bióloga e gerente do Sesi/Senai de Parintins, além de afirmar que vai ter festival este ano, também salienta que o evento será grandioso.
“Vai ter Festival, sim, e será um dos melhores festivais que Parintins e quem se dispôr a vir aqui ou assistir pela TV A Crítica vai ter a oportunidade de ver. Primeiro porque será Festival da superação, onde todo mundo está empenhado, aonde o artista está mostrando o que ele tem de maior talento. Às vezes com as facilidades a gente acaba se acomodando um pouco, e agora é a hora de mostrar a cara, o que o parintinense tem de talento, de criatividade. Confesso que todas as vezes que eu chego no galpão do Caprichoso eu me emociono cada vez mais. Com o que eu vejo, com o que eu sinto, com o clima, que é comentarista do azul nas transmissões do Festival de Parintins para a TV A Crítica.
Artista de ponta
“Vamos ter o maior Festival Folclórico da história. Venham para Parintins. Este é o Festival da grandeza, da superação, da humildade e da capacidade do artista da música, da arte plástica, se superar.Esse evento vai marcar um novo ciclo, de se pensar numa nova festa. De um impacto gigantesco porque ela é um investimento intelectual, do pensar, do criar, de desenvolver projetos sociais e turísticos que fortaleçam a entidade maior de um povo", resssaltou o artista de ponta Juarez Lima, um dos mais reconhecidos pelo público e que integra o Caprichoso.
"Afinal, sem nossas raízes culturais nós não podemos viver. Não se pode execrar, como queriam fazer esse ano, o nosso festival. Mas sabe porquê ele está forte? Porque ele tem uma raiz forte, uma cultura forte que vem lá dos tupinambás e dos parintintins, de todos que migraram para essa ilha encantada, essa ilha cosmopolita”, completou o artista.
Nossa cidade fica se desafiando. Desafia a nós artistas e as autoridades. E isso que é importante da arte: essa renovação sempre”, conclui ele.
Município pode assumir Bumbódromo
Na próxima quarta-feira, em Manaus, os presidentes dos bois reúnem com o prefeito de Parintins, Carlinhos da Carbrás, e com o governador José Melo, para tratar da possível transferência provisória da administração do bumbódromo do Governo do Estado para o Município para a realização do Festival Folclórico. Essa mudança implicaria em reparos estruturais da fiação elétrica, parte hidráulica e a pintura da arena, entre outros serviços.
O secretário municipal de Cultura e Turismo de Parintins, Zezinho Faria, lembrou que o festival, além de um belo espetáculo cultural, também move a economia da cidade no período bovino.
“Vai ter Festival porque essa festa de boi-bumbá tem mais de 100 anos, sendo 51 deles de disputa, e não será devido a interrupção de um patrocínio abrupto, como foi esse (do Governo do Estado) que nós vamos deixar de continuar a fazer esse belíssimo espetáculo cultural para o Estado do Amazonas, que influenciou em muito nos números turísticos do Amazonas. O festival pra nós é de suma importância, representa muito, do grande empresário parintinense ao vendedor de churrasquinho. É um dinheiro que pulveriza, que circula”, informou ele.
A reportagem tentou contato com a diretora-presidente da Amazonastur, Oreni Braga, mas sua assessoria de comunicação informou que ela não se pronunciaria sobre a realização ou não do Festival Folclórico.
Tradição, Festa dos Visitantes de Parintins está cancelada
Se por um lado em nenhuma hipótese a disputa dos bois Garantido e Caprichoso deixará de ser realizada, por outro, um dos maiores eventos pré-Festival de Parintins deixará de acontecer nesta temporada: a tradicional Festa dos Visitantes da Ilha Tupinambarana que acontecia sempre no dia anterior ao primeiro dia de disputa das associações folclóricas.
A confirmação oficial é do secretário municipal de Cultura e Turismo de Parintins, Zezinho Faria, em entrevista exclusiva para A CRÍTICA e Portal Acrítica.com. “A Prefeitura não dispõe de recursos orçados para esse tipo de festa. Está sendo transferida muita responsabilidade para o município”, disse o secretário.
Outro cancelamento confirmado são os ensaios técnicos e passagem de som que Caprichoso e Garantido realizavam na Arena do Bumbódromo e que neste ano estavam marcados para os dias 19, 20 e 21. Dessa forma, ambas as associações folclóricas vão realizar essa programação em seus próprios currais – Zeca Xibelão e Cidade Garantido, respectivamente.
Já a passagem de som que tradicionalmente acontece à tarde nos dias de apresentação (neste ano em 24, 25 e 26) segue mantida para o Bumbódromo.
Zezinho Faria enfatiza que a Prefeitura ainda estuda a viabilidade da instalação de palcos alternativos com apresentações de artistas locais no período do festival.
Coincidentemente, a primeira festa dos visitantes oficial de Parintins foi criada pelo próprio Zezinho Faria em 1987, no Clube Ilha Verde, localizado ainda hoje na avenida Amazonas, a principal de Parintins, no bairro São Benedito, com o nome “Baile dos Visitantes”.
“O objetivo principal era incentivar os visitantes a chegarem mais cedo em Parintins pois, antigamente, nos dois dias que antecediam o Festival (26 e 27), os bois não tinham nenhuma atividade. Eles paravam só esperando a disputa”, relembra ele, também criador de um evento chamado “Folcloreta”, este na Praça do Cristo Redentor, em uma época onde a concentração de visitantes em Parintins, a céu aberto, se resumia a locais como a área conhecida como “Chapão”, no bar de mesmo nome e localizado na avenida Ruy Barbosa, Centro da cidade. “O Chapão era muito jitinho. Aí nós trazíamos bandas de Santarém que se apresentavam no Baile dos Visitantes no Ilha Verde e no dia seguinte na Folcloreta”, conta ele.
A partir do momento em que o ex-governador Amazonino Mendes dotou os bois de infra-estrutura de sede nos currais, as associações folclóricas passaram a concorrer com Zezinho Faria, que sentiu a concorrência. “os bois tinham dinheiro e o Governo pagava a eles. Depois, o próprio governo colocou palcos alternativos no Comunas e Chapão e depois a festa passou para o Município”, informa ele. A Festa dos Visitantes teve como local ano passado a Praça dos Bois.
Clubes particulares de Parintins devem promover as suas festas de visitantes no dia 23, véspera do primeiro dia de apresentações dos bois Garantido e Caprichoso.