Já neste domingo (31) foi dia de assembleia para análise das contas da gestão do bumbá vermelho, que após aprovadas, ignorando irregularidades apontadas pelo conselho, também devem ser judicializadas
(Foto: Arquivo/Liam Cavalcante)
A Justiça do Amazonas anulou a assembleia do Garantido, realizada neste sábado (3), que havia definido uma nova diretoria para o boi em meio à acusação de irregularidades na gestão do atual presidente, Antônio Andrade. O pedido foi ingressado por Gaspar Medeiros, que já foi amo do boi. ele alegou que associados inadimplentes foram impedidos de participar, ferindo o estatuto da associação. Em razão da decisão, o Garantido marcou uma nova assembleia para o dia 12 de agosto.
No pedido, Gaspar alegou que após anunciar a assembleia, o boi não disponibilizou uma lista de associados adimplentes e inadimplentes para que pudessem buscar a regularização. Ele próprio afirma que tentou pagar a contribuição pelo site do Garantido, mas o sistema estava fora do ar.
A juíza plantonista da 1ª Vara da Comarca de Parintins, Juliana Arrais mousinho, entendeu que o boi precisa permitir que os associados possam se regularizar antes de realizar uma nova assembleia. Por isso, anulou a reunião anterior e definiu multa de R$ 1 mil por dia em caso de descumprimento.
“A assembleia começou 8h e 8h30 fizeram a segunda chamada. Estava chovendo muito e tinha umas 30 pessoas. Não deixaram as pessoas falarem, até porque o presidente não tem legitimidade para trocar uma diretoria agora, porque ele tá passando por um processo de fiscalização. Não teve lisura, legitimidade e moral alguma”, disse Gaspar Medeiros em entrevista para A CRÍTICA.
Segundo ele, quando mais associados começaram a chegar na reunião, “o presidente [Antônio Andrade] percebeu que ia perder e disse ‘quem aprova [a nova diretoria] levanta a mão’, e aí os associados alinhados com ele aprovaram e ele já encerrou a assembleia. Isso durou uns 30 segundos”.
Gaspar conta ainda que a discussão sobre a participação de associados inadimplentes começou no início do mês. No dia 6 de julho, ele e quase 300 sócios entraram com uma representação na associação para pedir o afastamento do presidente Antônio Andrade.
“A diretoria deveria ter enviado esse documento para o Conselho de Ética, que afastaria o presidente até que se apurasse tudo. Porém, a diretoria só respondeu que entre os que assinaram esse pedido havia inadimplentes, o que seria contra o estatuto. Então, isso gerou muita dúvida entre os associados, que depois não participaram da assembleia que definiu os diretores”, afirma ele.
A reportagem procurou o presidente do Garantido, Antônio Andrade, mas ele não retornou ao pedido de entrevista. Conseguimos contato com Adson Silveira, aliado do presidente e até então eleito novo diretor-administrativo pela assembleia que foi agora anulada. Ele garantiu que a reunião foi legítima.
“O que é da Justiça temos que acatar, mas eu quero dizer que a assembleia foi legítima. Aconteceu no sábado agora e foi homologada a nova diretoria. A gente não sabe o porquê de terem entrado com essa ação, porque foi tudo legal. 80 sócios assinaram a ata da assembleia”, disse.
Neste domingo (31), o Conselho Fiscal do Garantido realizou assembleia extraordinária com a presença do presidente Antônio Andrade e associados. A reunião seria para avaliar as contas da gestão atual do boi, reprovadas em parecer do conselho por conter mais de 100 irregularidades, como notas fiscais até em papel almaço.
Houve disputa pela condução da assembleia desde o início, o que acabou levando a dois resultados diferentes. Oficialmente, as contas foram aprovadas, mesmo com as irregularidades apontadas pelo conselho. Porém, após a votação,Gaspar Medeiros e outros opositores de Antônio Andrade recolheram assinaturas em uma ata e declararam a reprovação das contas. O caso também deve ser judicializado, segundo Gaspar.
Desde o fim do Festival de Parintins deste ano, o Garantido enfrenta aquela que já é considerada a maior crise da história do boi. Além de uma debandada de itens históricos da festa, como Edílson Santana, Sebastião Júnior e David Assayag, a associação revelou na sexta (29) que está mergulhada em mais de R$ 60 milhões em dívidas.